quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Algoritmos éticos para a paz

O Papa Francisco propõe uma reflexão sobre a inteligência artificial (IA) na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz que a Igreja Católica celebra, desde 1968, no primeiro dia do ano. É sempre arrojado refletir sobre uma realidade que ainda está em desenvolvimento, mesmo que esta já afete a vida das pessoas e condicione profundamente os seus comportamentos sociais.
Foto retirada daqui
O Papa aplica à IA o esquema que a Igreja costuma adotar na avaliação dos avanços científicos – as conquistas da ciência e da tecnologia são habitualmente enquadradas entre as oportunidades e os riscos que representam. Em relação à IA, o Papa fala de promessas e riscos: “Não podemos presumir ‘a priori’ que o seu desenvolvimento traga um contributo benéfico para o futuro da humanidade e para a paz entre os povos”, diz Francisco.

Em ordem a potenciar ao máximo os desenvolvimentos científicos e prevenir os riscos da sua má utilização, a Igreja tem sempre proposto um reforço ético na sua avaliação. A IA exige, segundo o Papa, um “diálogo interdisciplinar voltado para um desenvolvimento ético dos algoritmos – a algor-ética – em que sejam os valores a orientar os percursos das novas tecnologias”.

Porque os avanços tecnológicos são frequentemente utilizados para fazer a guerra, o Papa afirma que “as aplicações técnicas mais avançadas [da IA] não devem ser utilizadas para facilitar a resolução violenta dos conflitos, mas para pavimentar os caminhos da paz”. O ano de 2023 foi um exemplo da quantidade de recursos utilizados para destruir e matar nesta “terceira guerra mundial aos pedaços”, como a tem caraterizado o Papa. Recursos que deviam ser utilizados para edificar, combater a fome e educar.

Oxalá, no próximo ano, os dirigentes mundiais sejam mais sensíveis às palavras do Papa e o mundo seja mais pacífico.

Um bom 2024 para todos!

 

domingo, 24 de dezembro de 2023

Votos de festas felizes!


Natal é Luz, Alegria e Paz, mas é também um Silêncio que fala de forma eloquente.

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento” (Is. 9, 1-2a). E ainda: “O seu poder será engrandecido numa paz sem fim” (vs. 6a). No Evangelho narrava-se que uma grande luz envolveu os pastores e lhes foi anunciada uma grande alegria (Cf. Lc. 2, 9). Terminava com louvor das criaturas celestes, que diziam: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc. 2, 14)

A luz que brilha nas trevas é o sinal que o profeta Isaías propõe para anunciar uma extraordinária intervenção de Deus na história da humanidade. Ela será causa de alegria, para todos os que se deixarem envolver por essa luz. Significará, para aqueles que por ela se deixarem guiar, uma grande paz.

Esse acontecimento, anunciado pelos profetas, começa a realizar-se, de forma discreta e só percetível para alguns, no nascimento de Jesus. Esta é a originalidade do Cristianismo, um Deus que se faz verdadeiro homem.

Esta noite, somos convidados a ir, com os pastores, ao estábulo, que se encontra fora da cidade de Belém, e, mais que olhar, ver em profundidade, contemplar esse acontecimento, que continua a falar pela sua simplicidade e humildade.

O Deus Todo-Poderoso e a quem tudo pertence, quis assumir a fragilidade da natureza humana e nascer pobremente em Belém. Quis ser um embrião no seio de uma mulher, nascer como qualquer um de nós, provavelmente em condições bem piores do que as de todos nós. Quis ser uma criança frágil e dependente, primeiramente de Maria e, depois, também de José. Quis, assim, nesse seu plano, de vir até nós, envolver e implicar Maria e José.

Um Santo e Feliz Natal para todos!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A Cúria gera santos e promove ladrões

Cardeal Eduardo Pironio
e Cardeal 
Angelo Becciu

A Cúria Romana, como todas as circunstâncias humanas, pode levar à perdição ou à santificação. Disso são um exemplo os cardeais Angelo Becciu e Eduardo Pironio.

O cardeal Angelo Becciu, com 75 anos, foi uma espécie de chefe de gabinete dos Papas Bento XVI e Francisco entre 2011 e 2018 e Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, de 2018 a 2020. No sábado passado, foi condenado a cinco anos e meio de prisão efetiva por peculato, abuso de poder, corrupção e branqueamento de capitais.

No mesmo dia o cardeal Eduardo Pironio (1920-1998) foi beatificado numa celebração junto da Basílica de Nossa Senhora de Luján, na Argentina. Esta é a última etapa antes de ser proclamado santo.

Em 1975, Paulo VI chamou-o para a Cúria Romana. No dia em que assumiu essas responsabilidades escreveu no seu diário: “Quanto me custou deixar a diocese, a família e a pátria, os amigos e os parentes! Agora estou sozinho no caminho: mas o Senhor está comigo.”

O cardeal Fernando Vérgez, que foi secretário de Pironio em Roma, presidiu à sua beatificação e recordou “a sua paz interior e a sua profunda amizade com Deus”.

Entre 1984 e 1996, Pironio foi presidente do Pontifício Conselho para os Leigos. Nessa qualidade colaborou com João Paulo II na promoção da formação laical e na criação das Jornadas Mundiais da Juventude.

No final da oração do Angelus, no domingo passado, o Papa Francisco classificou o cardeal Pironio como um “pastor humilde e zeloso, testemunha da esperança, defensor dos pobres”.

As mesmas circunstâncias podem fazer o ladrão ou o santo. Em relação à Cúria Romana, tudo depende como se encara essa posição. Se é vivida como uma promoção, é fácil deixar-se corromper e perder o sentido de missão. Se é vivida com humildade e como um serviço à Igreja, então será, seguramente, um caminho de santidade.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

O que diz o silêncio do presépio

Presépio da Praça de S. Pedro
Foto: REUTERS/Remo Casilli retirada daqui
 
O presépio ainda vai aparecendo, mesmo nos espaços públicos, a recordar o que se celebra no Natal – o nascimento de Jesus em Belém!

Este ano celebram-se os 800 anos do presépio ao vivo, idealizado por S. Francisco de Assis e representado durante a celebração da missa da meia-noite do Natal de 1223, em Greccio, no Vale de Rieti, em Itália.

No sábado passado foi inaugurado o presépio e iluminada a árvore, que costumam decorar nesta quadra natalícia a Praça de S. Pedro, no Vaticano homenageando esta iniciativa de S. Francisco. Como pano de fundo aparece o afresco que, em Greccio, assinala o local onde o santo fez a representação da Natividade. Com as tradicionais figuras de Jesus, Maria e José, está também representado o próprio S. Francisco e mais alguns frades franciscanos.

Na inauguração do presépio, o Papa apelou ao silêncio e à oração diante dele: “Silêncio para poder ouvir o que Jesus nos diz a partir daquela ‘cátedra’ singular que é a manjedoura. Oração para expressar a maravilha, a ternura e talvez as lágrimas que a cena da Natividade suscita em nós”, disse o Papa.

O bispo D. Carlos Azevedo recorda, no Facebook, que as representações de Maria com o Menino aparecem desde os primeiros séculos do cristianismo. Explica o sentido simbólico de alguns elementos do presépio, como a inclusão do boi (Israel) e do jumento (os pagãos), que não aparecem nos Evangelhos. O Cristianismo surge com a vocação universal de congregar todos os povos, mesmo os mais distantes, simbolizados pelos Reis Magos.

Um mundo em guerra, como é o nosso, precisa de olhar para o presépio e deixar-se contagiar pela sua mensagem de reconciliação e inclusão. Este mundo consumista, dominado pela agitação e ruído, deveria deixar-se interpelar pelo silêncio e despojamento de um Deus que escolheu nascer pobremente em Belém.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Papa apela à paz e à defesa do planeta

Foto: COP28
Foto: COP28

As alterações climáticas e a guerra dominam a atualidade mundial. Decorre a 28º conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas – COP28 no Dubai. E a guerra grassa pelo planeta, merecendo maior destaque mediático entre nós a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Há, contudo, muitos outros conflitos espalhados pelo mundo.

O Papa Francisco abordou estas questões no domingo numa curtíssima videomensagem (menos de dois minutos) a propósito da inauguração do “Pavilhão da Fé” no Dubai. Francisco começou por saudar a feliz iniciativa de, pela primeira vez numa COP, ter criado um espaço religioso – e lançou um apelo a todas as religiões para trabalharem em conjunto pela paz e pelo clima.

O Papa está bem consciente que, no passado como hoje, uma errónea conceção da religião ter servido e servir para desunir e promover o terrorismo e os conflitos armados. Da mesma forma, também certas conceções religiosas levam à falta de respeito pela criação.

É o caso de uma falsa interpretação da narração do Génesis na Bíblia, a qual sucede quando se focaliza a atenção apenas no mandato divino para dominar a terra (Cf. Gén 1, 28). Ora, não se pode esquecer que Deus confiou ao ser humano a criação para a cultivar e cuidar (Cf. Gén 2, 15).

O Papa convoca as religiões e propõe às nações uma aliança que não seja feita como habitualmente acontece entre elas. “O mundo, hoje, precisa de alianças que não sejam contra alguém, mas a favor de todos”. De facto, o mais comum é as nações unirem-se contra um inimigo comum, autodenominando-se “aliadas”.

O Papa gostaria que se fizesse uma aliança global contra a guerra, ou, melhor ainda, pela paz. Do mesmo modo, as alterações climáticas deveriam ser assumidas como inimigas da humanidade, promovendo uma grande aliança em defesa do planeta enquanto “casa comum”.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

As verdadeiras imagens de Cristo Rei

Escultura de Timothy P. Schmalz inspirada em Mt. 25, 40
Foto retirada daqui

Os reis e os presidentes espalham as suas fotos oficiais pelos gabinetes e serviços públicos. Também Cristo Rei deixou aos crentes as suas fotografias para que dele se recordem. Bem diferentes das imagens dos reis e presidentes deste mundo.

No domingo passado, os católicos celebraram a Solenidade de Cristo Rei. O Evangelho recordava que cada um será julgado pelas vezes que viram Jesus, com fome ou sede, sem roupa ou sem abrigo, doente ou na prisão e lhe prestaram, ou não, assistência. Ou seja, esclarece Jesus, para quem não se deu conta dessas situações: Sempre que o “fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes” (Mt. 25, 40).

Este é o fundamento da solidariedade cristã. Não se trata de uma “caridadezinha” assistencialista ou de mera filantropia. Trata-se de ver no pobre, no doente, no refugiado, no sem-abrigo, no marginalizado, no recluso o rosto desfigurado de Cristo.

Por vezes, aqueles que são acolhidos nas nossas instituições descarregam sobre nós as suas frustrações, as suas feridas do passado, o seu sofrimento. Insultam-nos, reclamam e lançam sobre nós todos os impropérios. Mesmo nessas circunstâncias é o próprio Jesus que acolhemos.

Não é fácil ver o rosto de Jesus nos reclusos, sobretudo quando lhe são atribuídos certos crimes hediondos. Contudo, para os cristãos continua a ser Jesus que visitam na cadeia.

As verdadeiras imagens de Cristo Rei são os rostos desfigurados pela pobreza, pelo sofrimento, pela doença, pela marginalidade ou pela reclusão. São esses que reclamam o empenhamento dos cristãos, para lhes prestar assistência. Porém, não se esgota aí a sua ação. Têm também de se envolver e comprometer na luta contra as causas que conduzem essas pessoas à pobreza, à marginalização ou à exclusão social.

São essas as “fotos” de Cristo Rei espalhadas pelo mundo!

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

O que leva clérigos à maçonaria?


A maçonaria não é conciliável com a fé católica. Apesar desta evidência, não falta quem tente, pelas mais diversas formas, procurar demonstrar que se pode ser maçom e católico.

O Código de Direito Canónico (a lei da Igreja Católica), promulgado por S. João Paulo II a 25 de janeiro de 1983, não referia explicitamente que não é permitido aos católicos aderir às lojas maçónicas, contrariamente ao de 1917. Um dia antes da entrada em vigor desse Código, a 26 de novembro de 1983, a então Congregação para a Doutrina da Fé, agora Dicastério, publicava uma declaração, em que esclarecia que os princípios maçónicos são “inconciliáveis com a doutrina da Igreja”. Por essa razão, continuava a ser “proibida pela Igreja” a adesão à maçonaria dos seus fiéis.

A 10 de março de 1985, a mesma Congregação publicou um texto com uma reflexão sobre a “inconciliabilidade entre fé cristã e maçonaria”, no qual eram reunidos exemplos retirados de documentos papais e outros textos do magistério. Entre outros argumentos, declarava-se que “um cristão católico não pode participar ao mesmo tempo na plena comunhão da fraternidade cristã e, por outro lado, olhar para o seu irmão cristão, a partir da perspetiva maçónica, como para um ‘profano’”.

Na semana passada, o Dicastério para a Doutrina da Fé, voltou a clarificar que não é permitido aos católicos aderirem à maçonaria. O grão-mestre do Grande Oriente Lusitano criticou essa posição e referiu que a maçonaria “acolheu e acolhe no seu seio, não só importantes figuras da Igreja Católica, como também simples fiéis católicos”.

Que católicos menos informados não consigam identificar qualquer “antagonismo” entre essas duas instituições, é admissível. Estranho é que os clérigos desconheçam as normas da Igreja, e os documentos por ela produzida, e continuem a aderir à maçonaria.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

O contributo da Igreja para a democracia


A situação social do país já estava na agenda da reunião dos bispos que decorre em Fátima desde segunda até amanhã. Acresce agora a crise política desencadeada pela demissão do primeiro-ministro.

No discurso de abertura da reunião, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, alertou para o clima de “revolta” e “conflitualidade” devido à crise económica que afeta o país, agora agravada com uma crise política. Para o presidente da CEP, “cresce a frustração e a revolta, especialmente entre os mais vulneráveis, como também a desilusão e a apatia desmobilizadora”.

Esta conjuntura é um “campo fértil para manipulações e messianismos populistas que minam os fundamentos de uma autêntica democracia”, alertou D. José Ornelas. É preciso que todos, particularmente os cristãos, não se deixem abater e vençam a apatia que se pode instalar. “Neste momento é quando é mesmo necessário participar, seja na atividade direta e ativa na vida política, seja no elementar direito e dever de votar”, disse o bispo de Leiria-Fátima.

Nos anos 60 e 70 a Igreja em Portugal contribuiu, sobretudo através da Ação Católica, para a formação de muitos e reconhecidos políticos nacionais. Foram tempos que precederam e prepararam o regime democrático em que vivemos há quase 50 anos. Este, no entanto, corre o risco de se degradar – e até de desaparecer – se não for devidamente cuidado. É necessário, por isso, que todos se empenhem para o defender e salvaguardar. Também a Igreja!

Oxalá os bispos reunidos em Fátima, para além de refletirem sobre a crise económica e política do país, encontrem formas de levar os católicos a envolverem-se mais nas questões sociais, económicas e políticas. Novos atores são bem-vindos para revitalizar a democracia portuguesa com os contributos da doutrina social da Igreja.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

O Sínodo e as mulheres nos seminários


O relatório síntese da primeira sessão do Sínodo que, em outubro, decorreu em Roma, solicita que “se verifique de forma aprofundada a formação para o ministério ordenado à luz da perspetiva da Igreja sinodal missionária”. No relatório propõem-se diversas sugestões a ter em conta na formação dos candidatos a padres, para que estes possam servir melhor “uma Igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática e mais relacional”. Esta é, em síntese, a Igreja sinodal que se quer promover.

Os padres, em chave sinodal, “são chamados a viver o seu serviço ao Povo de Deus numa atitude de proximidade às pessoas, de acolhimento e de escuta de todos e a cultivar uma profunda espiritualidade pessoal e uma vida de oração”. Essas exigências deverão levar as dioceses a “repensar os estilos e os percursos formativos” dos candidatos ao ministério sacerdotal, bem como promover o exercício da autoridade num estilo apropriado a uma Igreja sinodal”.

Os seminários, segundo o relatório, não deverão “criar um ambiente artificial, separado da vida comum dos fiéis”, mas diretamente ligados à vida concreta das pessoas e das comunidades: “O Povo de Deus deve estar amplamente representado na formação dos ministros ordenados”, lê-se. Propõe-se que se valorize “o contributo feminino e a cooperação das famílias” nesse percurso formativo: “Insiram-se as mulheres nos programas de ensino e formação dos seminários para favorecer uma melhor formação para o ministério ordenado”.

Nos dias em que a Igreja em Portugal está a viver a Semana de Oração pelos Seminários, o Sínodo abre perspetivas para a revisão profunda da formação ministrada aos futuros padres. É um apelo lúcido, este que vem de Roma. É preciso responder-lhe com coragem, e com espírito reformista, para reinventar percursos formativos para uma Igreja mais sinodal.

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Tornar o Sínodo o “modus vivendi”

Foto retirada daqui

O maior legado que o Papa Francisco deixará à Igreja será a recuperação do seu carácter sinodal. Não é algo revolucionário, porquanto se trata de um regresso às origens e à sua origem – Jesus Cristo. Implica, contudo, uma revolução no seu funcionamento.

Tal como Jesus, o Papa pretende que a Igreja acolha, escute e acompanhe todos os que a ela pertencem ou dela se aproximem. Por isso, o Sínodo que está a decorrer desde 2021 e só se encerrará em 2024 procurou promover a escuta a nível local, regional e continental. Com contributos vindos de todo o mundo, reuniu-se o Sínodo dos Bispos em Roma, desde o dia 7 de outubro até ao passado sábado. Foi a sua primeira sessão, a qual será seguida de uma segunda em outubro de 2024

Pela primeira vez, para além dos bispos de todo o mundo, participaram outros homens e mulheres com direito a voto. Foi dada liberdade de expressão a todos os participantes e promoveu-se um ambiente de escuta recíproca.

Até aqui a preocupação dos intervenientes em sínodos, quase exclusivamente bispos, era dizer o que o Papa esperava ouvir e confirmar as suas orientações para a Igreja. Agora, até os críticos do Papa tiveram assento no Sínodo e foram convidados a falar, apelando-se apenas para que não se fixassem nas suas posições e soubessem acolher as dos outros, para todos fazerem “caminho juntos”. É isso que significa a palavra “sínodo”.

O relatório final desta primeira sessão do Sínodo expõe os pontos de convergência alcançados e as questões que exigem aprofundamento, sublinhando as propostas para implementar a dinâmica sinodal na vida da Igreja. O Sínodo dos Bispos deixou de ser um acontecimento para se converter num processo estrutural constitutivo da própria Igreja. Sendo já um facto, este processo exige ainda muita conversão pessoal e comunitária à nova forma de funcionamento.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Próximo Papa será asiático ou africano

A Agência Fides divulga todos os anos, no Domingo das Missões, uma radiografia da situação da Igreja Católica no mundo. Essa efeméride celebrou-se no domingo passado e foram divulgados os dados relativos a 2021.

Quem olhar para o número absoluto dos católicos, ficará satisfeito porque aumentou mais de 16 milhões em relação ao ano anterior. São agora mais de 1.375 milhões. Quem se fixar na percentagem da população mundial que é católica, essa diminuiu em 0,06%. É agora de 17,67%.

Consultando as estatísticas relativas aos primeiros vinte anos deste século e milénio, verifica-se que, em todos os continentes, aumentaram os católicos (+315 milhões do que em 2001) e que a sua percentagem variou pouco (+0,37%). Esta só diminuiu na Europa (-0,39%), em que ainda 39,58% da população se declara católica, e na Oceânia (-0,83%) onde há quase 11 milhões de católicos – 25,94% da sua população.

Na América, onde se verifica a percentagem mais elevada: 64,08%, aumentou 1,38%. Continua a ser o continente onde há mais católicos, 660 milhões, e foi aquele em que estes mais aumentaram: 132 milhões. A África tem o maior aumento percentual (+2,61%), que significou quase uma duplicação dos católicos – de 135 para 265 milhões: são agora 19,38% da sua população. Este continente está quase a ultrapassar os 286 milhões de católicos europeus, que apenas aumentaram 5 milhões e meio.

Na Ásia verifica-se a percentagem mais baixa, 2,89%, e um aumento de apenas 0,43%. Contudo, passou de 108 para 153 milhões de católicos. Tendo em conta que naquelas paragens os que se declaram católicos são-no, de facto, já serão bem mais do que os praticantes na Europa ou na América.

A Igreja Católica está a tornar-se cada vez mais africana e asiática. Por isso, será natural que o próximo Papa seja oriundo de um desses continentes.

Cardeal Peter Turkson, à esquerda, e Cardeal Luis Tagle, à direita, apontados pela Newsweek, a 21/06/2022, como possíveis sucessores do Papa Francisco. Foto: GETTY/AP, retirada daqui.