quarta-feira, 29 de novembro de 2023

As verdadeiras imagens de Cristo Rei

Escultura de Timothy P. Schmalz inspirada em Mt. 25, 40
Foto retirada daqui

Os reis e os presidentes espalham as suas fotos oficiais pelos gabinetes e serviços públicos. Também Cristo Rei deixou aos crentes as suas fotografias para que dele se recordem. Bem diferentes das imagens dos reis e presidentes deste mundo.

No domingo passado, os católicos celebraram a Solenidade de Cristo Rei. O Evangelho recordava que cada um será julgado pelas vezes que viram Jesus, com fome ou sede, sem roupa ou sem abrigo, doente ou na prisão e lhe prestaram, ou não, assistência. Ou seja, esclarece Jesus, para quem não se deu conta dessas situações: Sempre que o “fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes” (Mt. 25, 40).

Este é o fundamento da solidariedade cristã. Não se trata de uma “caridadezinha” assistencialista ou de mera filantropia. Trata-se de ver no pobre, no doente, no refugiado, no sem-abrigo, no marginalizado, no recluso o rosto desfigurado de Cristo.

Por vezes, aqueles que são acolhidos nas nossas instituições descarregam sobre nós as suas frustrações, as suas feridas do passado, o seu sofrimento. Insultam-nos, reclamam e lançam sobre nós todos os impropérios. Mesmo nessas circunstâncias é o próprio Jesus que acolhemos.

Não é fácil ver o rosto de Jesus nos reclusos, sobretudo quando lhe são atribuídos certos crimes hediondos. Contudo, para os cristãos continua a ser Jesus que visitam na cadeia.

As verdadeiras imagens de Cristo Rei são os rostos desfigurados pela pobreza, pelo sofrimento, pela doença, pela marginalidade ou pela reclusão. São esses que reclamam o empenhamento dos cristãos, para lhes prestar assistência. Porém, não se esgota aí a sua ação. Têm também de se envolver e comprometer na luta contra as causas que conduzem essas pessoas à pobreza, à marginalização ou à exclusão social.

São essas as “fotos” de Cristo Rei espalhadas pelo mundo!

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

O que leva clérigos à maçonaria?


A maçonaria não é conciliável com a fé católica. Apesar desta evidência, não falta quem tente, pelas mais diversas formas, procurar demonstrar que se pode ser maçom e católico.

O Código de Direito Canónico (a lei da Igreja Católica), promulgado por S. João Paulo II a 25 de janeiro de 1983, não referia explicitamente que não é permitido aos católicos aderir às lojas maçónicas, contrariamente ao de 1917. Um dia antes da entrada em vigor desse Código, a 26 de novembro de 1983, a então Congregação para a Doutrina da Fé, agora Dicastério, publicava uma declaração, em que esclarecia que os princípios maçónicos são “inconciliáveis com a doutrina da Igreja”. Por essa razão, continuava a ser “proibida pela Igreja” a adesão à maçonaria dos seus fiéis.

A 10 de março de 1985, a mesma Congregação publicou um texto com uma reflexão sobre a “inconciliabilidade entre fé cristã e maçonaria”, no qual eram reunidos exemplos retirados de documentos papais e outros textos do magistério. Entre outros argumentos, declarava-se que “um cristão católico não pode participar ao mesmo tempo na plena comunhão da fraternidade cristã e, por outro lado, olhar para o seu irmão cristão, a partir da perspetiva maçónica, como para um ‘profano’”.

Na semana passada, o Dicastério para a Doutrina da Fé, voltou a clarificar que não é permitido aos católicos aderirem à maçonaria. O grão-mestre do Grande Oriente Lusitano criticou essa posição e referiu que a maçonaria “acolheu e acolhe no seu seio, não só importantes figuras da Igreja Católica, como também simples fiéis católicos”.

Que católicos menos informados não consigam identificar qualquer “antagonismo” entre essas duas instituições, é admissível. Estranho é que os clérigos desconheçam as normas da Igreja, e os documentos por ela produzida, e continuem a aderir à maçonaria.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

O contributo da Igreja para a democracia


A situação social do país já estava na agenda da reunião dos bispos que decorre em Fátima desde segunda até amanhã. Acresce agora a crise política desencadeada pela demissão do primeiro-ministro.

No discurso de abertura da reunião, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, alertou para o clima de “revolta” e “conflitualidade” devido à crise económica que afeta o país, agora agravada com uma crise política. Para o presidente da CEP, “cresce a frustração e a revolta, especialmente entre os mais vulneráveis, como também a desilusão e a apatia desmobilizadora”.

Esta conjuntura é um “campo fértil para manipulações e messianismos populistas que minam os fundamentos de uma autêntica democracia”, alertou D. José Ornelas. É preciso que todos, particularmente os cristãos, não se deixem abater e vençam a apatia que se pode instalar. “Neste momento é quando é mesmo necessário participar, seja na atividade direta e ativa na vida política, seja no elementar direito e dever de votar”, disse o bispo de Leiria-Fátima.

Nos anos 60 e 70 a Igreja em Portugal contribuiu, sobretudo através da Ação Católica, para a formação de muitos e reconhecidos políticos nacionais. Foram tempos que precederam e prepararam o regime democrático em que vivemos há quase 50 anos. Este, no entanto, corre o risco de se degradar – e até de desaparecer – se não for devidamente cuidado. É necessário, por isso, que todos se empenhem para o defender e salvaguardar. Também a Igreja!

Oxalá os bispos reunidos em Fátima, para além de refletirem sobre a crise económica e política do país, encontrem formas de levar os católicos a envolverem-se mais nas questões sociais, económicas e políticas. Novos atores são bem-vindos para revitalizar a democracia portuguesa com os contributos da doutrina social da Igreja.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

O Sínodo e as mulheres nos seminários


O relatório síntese da primeira sessão do Sínodo que, em outubro, decorreu em Roma, solicita que “se verifique de forma aprofundada a formação para o ministério ordenado à luz da perspetiva da Igreja sinodal missionária”. No relatório propõem-se diversas sugestões a ter em conta na formação dos candidatos a padres, para que estes possam servir melhor “uma Igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática e mais relacional”. Esta é, em síntese, a Igreja sinodal que se quer promover.

Os padres, em chave sinodal, “são chamados a viver o seu serviço ao Povo de Deus numa atitude de proximidade às pessoas, de acolhimento e de escuta de todos e a cultivar uma profunda espiritualidade pessoal e uma vida de oração”. Essas exigências deverão levar as dioceses a “repensar os estilos e os percursos formativos” dos candidatos ao ministério sacerdotal, bem como promover o exercício da autoridade num estilo apropriado a uma Igreja sinodal”.

Os seminários, segundo o relatório, não deverão “criar um ambiente artificial, separado da vida comum dos fiéis”, mas diretamente ligados à vida concreta das pessoas e das comunidades: “O Povo de Deus deve estar amplamente representado na formação dos ministros ordenados”, lê-se. Propõe-se que se valorize “o contributo feminino e a cooperação das famílias” nesse percurso formativo: “Insiram-se as mulheres nos programas de ensino e formação dos seminários para favorecer uma melhor formação para o ministério ordenado”.

Nos dias em que a Igreja em Portugal está a viver a Semana de Oração pelos Seminários, o Sínodo abre perspetivas para a revisão profunda da formação ministrada aos futuros padres. É um apelo lúcido, este que vem de Roma. É preciso responder-lhe com coragem, e com espírito reformista, para reinventar percursos formativos para uma Igreja mais sinodal.

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Tornar o Sínodo o “modus vivendi”

Foto retirada daqui

O maior legado que o Papa Francisco deixará à Igreja será a recuperação do seu carácter sinodal. Não é algo revolucionário, porquanto se trata de um regresso às origens e à sua origem – Jesus Cristo. Implica, contudo, uma revolução no seu funcionamento.

Tal como Jesus, o Papa pretende que a Igreja acolha, escute e acompanhe todos os que a ela pertencem ou dela se aproximem. Por isso, o Sínodo que está a decorrer desde 2021 e só se encerrará em 2024 procurou promover a escuta a nível local, regional e continental. Com contributos vindos de todo o mundo, reuniu-se o Sínodo dos Bispos em Roma, desde o dia 7 de outubro até ao passado sábado. Foi a sua primeira sessão, a qual será seguida de uma segunda em outubro de 2024

Pela primeira vez, para além dos bispos de todo o mundo, participaram outros homens e mulheres com direito a voto. Foi dada liberdade de expressão a todos os participantes e promoveu-se um ambiente de escuta recíproca.

Até aqui a preocupação dos intervenientes em sínodos, quase exclusivamente bispos, era dizer o que o Papa esperava ouvir e confirmar as suas orientações para a Igreja. Agora, até os críticos do Papa tiveram assento no Sínodo e foram convidados a falar, apelando-se apenas para que não se fixassem nas suas posições e soubessem acolher as dos outros, para todos fazerem “caminho juntos”. É isso que significa a palavra “sínodo”.

O relatório final desta primeira sessão do Sínodo expõe os pontos de convergência alcançados e as questões que exigem aprofundamento, sublinhando as propostas para implementar a dinâmica sinodal na vida da Igreja. O Sínodo dos Bispos deixou de ser um acontecimento para se converter num processo estrutural constitutivo da própria Igreja. Sendo já um facto, este processo exige ainda muita conversão pessoal e comunitária à nova forma de funcionamento.