Ordenação episcopal de Libby Lane Foto retirada daqui |
A ordenação episcopal de uma mulher na Igreja
Anglicana serviu de pretexto para se questionar a recusa da Igreja Católica ao
sacerdócio no feminino. A forma como a questão é posta pode traduzir uma forma
errada de entender o ministério ordenado e, até, contrária às perspetivas
rasgadas pelo Concílio Vaticano II.
Os padres conciliares, há 50 anos,
abandonaram uma conceção piramidal da Igreja e definiram-na como Povo de Deus
em que todos os fiéis têm a mesma dignidade (Cf. Lumen Gentium, 32). A
ordenação de alguns não os promove, antes os coloca ao serviço dos demais. “O sacerdócio ministerial é um dos meios que
Jesus utiliza ao serviço do seu povo, mas a grande dignidade vem do Batismo, que é
acessível a todos”, recordou o Papa Francisco (Evangelii
Gaudium, 104).
Reclamar o acesso das mulheres ao sacerdócio,
como um direito que lhes assiste, ou considerar que não enveredar por esse
caminho é um menosprezo pelo papel da mulher na Igreja, pode, mesmo sem o
pretender, contribuir para acentuar a ideia de que os clérigos são uma casta
superior vedada ao género feminino.
O Vaticano II recordou que ser cristão não se
reduz a uma relação pessoal e íntima com Deus, mas exige a vivência da fé e a
sua celebração com os outros (Cf. Lumen Gentium, 9). A vitalidade de uma
comunidade cristã traduz-se, assim, pela atenção aos mais desfavorecidos, pelo
dinamismo missionário que brotam de uma fé esclarecida e por uma intensa vida
de oração.
Uma comunidade viva deveria também gerar os
seus líderes, homens ou mulheres, casados ou solteiros. E, se estes reunissem
as condições consideradas adequadas, poderiam presidir à celebração da
Eucaristia, perdoar os pecados e ungir os doentes. Ao fazê-lo, não seriam
superiores, mas somente desempenhariam uma tarefa diferente entre iguais. Para
garantir a unidade e a comunhão com a Igreja na sua catolicidade teriam no bispo
a sua referência, como o maior servidor da comunidade diocesana, e no Papa o
garante da unidade na diversidade das diferentes igrejas.
É neste enquadramento que deve ser refletido o
ministério ordenado, bem como a sua atribuição a homens ou mulheres, casados ou
solteiros. Fazê-lo numa perspetiva individualista de reivindicação de um
direito pessoal, ou de género, é um erro.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 30/01/2015)
(Texto publicado no Correio da Manhã de 30/01/2015)