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A bordo do avião, no regresso das Filipinas, o Papa não falou só de coelhos.
Falou também de “um país que sabe sofrer”. E não se esqueceu dos pobres, “as vítimas desta cultura do descarte”. Denunciou o terrorismo de Estado que lança
os cidadãos na pobreza e dos que dela se aproveitam para fazer uma “colonização
ideológica”. Ergueu a voz contra a corrupção e os corruptos, que roubam o povo.
Como é normal e natural, o que mereceu um maior destaque e gerou uma maior
discussão foi a alusão à paternidade responsável, por causa da formulação
utilizada pelo Papa: “Creem alguns – desculpem a frase – que, para ser bons
católicos, devem ser como coelhos”.
Esta expressão foi logo aproveitada para sublinhar a aparente contradição
entre o apelo à paternidade responsável e a rejeição dos métodos anticoncetivos
artificiais. Como se estes fossem o única forma de exercer a responsabilidade
na procriação e assumindo que a Igreja é contra eles liminarmente. Porém, Bento
XVI, há cinco anos, admitiu o uso do preservativo em determinadas
circunstâncias. E Paulo VI, como recordou o Papa Francisco, defendeu a
anticoncepção natural mas recomendou “aos confessores para serem misericordiosos,
compreensivos” para com os problemas pessoais nestas
matérias.
Nestes como noutros assuntos, a Igreja tem vindo a abandonar um discurso
fundamentalista e a concentrar-se naquela que deve ser a sua preocupação:
anunciar valores e denunciar o seu atropelo. Mais importante do que dizer se se
pode ou não usar o preservativo, a Igreja deve, antes, apelar à
responsabilidade dos pais para colocarem no mundo os filhos que devem. E isto
poderá implicar, para alguns, não procriarem mais e, para outros, serem mais
generosos e não cederem à tentação de se ficarem pelo filho único.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 23/01/2015)
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