Foto retirada de Portal Um |
O Papa
Francisco deu mais um passo significativo na forma como a Igreja lida com o problema
da pedofilia no seu seio. No passado sábado nomeou oito elementos para a Pontifícia
Comissão para a Tutela dos Menores que tinha anunciado no dia 5 de Dezembro de
2013.
O escândalo
da pedofilia abriu feridas profundas e insanáveis nas vítimas. Manchou o rosto da
Igreja na passagem do II para o III milénio. Pôs a nu comportamentos
inadequados das autoridades eclesiásticas, como reconheceu Bento XVI em 2010,
numa Carta Pastoral aos bispos irlandeses. Até ao final do século XX o
procedimento habitual da hierarquia católica era tudo fazer para abafar o
escândalo e, quando muito, transferia o sacerdote acusado de paróquia ou de
encargo pastoral.
Em 2001
começou a mudar a sua atuação. Por determinação de João Paulo II, o abuso
sexual de um menor perpetrado por um clérigo passou a fazer parte da lista dos
delitos graves reservado à Congregação para a Doutrina da Fé, obrigando os
bispos a comunicar os casos detetados nas suas dioceses desde que existissem
provas desses delitos.
Bento XVI pediu
às Conferências Episcopais, em 2010, que definissem diretrizes claras a aplicar
logo que surgissem suspeitas de comportamentos pedófilos. Estas deveriam ter em
conta o apoio às vítimas, a proteção dos menores, a formação dos futuros
sacerdotes e religiosos, o acompanhamento dos clérigos e, ainda (o aspeto mais
surpreendente), a colaboração com as autoridades civis.
A Conferência Episcopal Portuguesa aprovou essas diretrizes
em Abril de 2012. Nelas são tidas em consideração todas as recomendações
papais. Agora, ao nomear os primeiros elementos para a Pontifícia Comissão, o
Papa Francisco, para além de dar continuidade ao caminho percorrido pelos seus
antecessores no combate à pedofilia, centra a atenção da Igreja nas vítimas.
Com estas
nomeações, de quatro homens e quatro mulheres, o Papa revela argúcia política –
escreve John Allen, num texto no jornal “The Boston Globe” – e responde às duas
principais críticas que tem recebido. A primeira é a de nada ter feito no
combate à pedofilia. A segunda é a de, embora defendendo a importância da
mulher na Igreja, continuar a rejeitar a sua ordenação.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 28/03/2014)