Cardeal Walter Kasper foto retirada de IHU |
A agenda do
Papa no final da semana passada e início desta foi dominada pela temática da
família.
Segunda e
terça-feira desta semana reuniram com o Papa o relator geral e o secretário do
Sínodo dos Bispos, respetivamente, o cardeal Peter Erdo, arcebispo de Budapest,
e D. Bruno Forte, arcebispo da diocese italiana de Chieti e Vasto. Analisaram
as respostas ao inquérito papal sobre a família, vindas de todo o mundo, e
elaboraram uma primeira síntese. Nela transparece a “voz da Igreja”, a qual
manifesta a “urgência de anunciar o Evangelho da família com novo impulso e
modalidade”, bem como “os desafios e dificuldades associados à vida familiar e
as suas eventuais crises”, diz um comunicado da Santa Sé relativo à reunião.
Dias antes,
os cardeais refletiram sobre o matrimónio, o problema dos divorciados e a
anulação dos casamentos. No início do Consistório que decorreu até sábado, o
cardeal Walter Kasper propôs uma reflexão teológica sobre o matrimónio
católico. Apesar de o próprio ter afirmado numa entrevista que “a questão dos
divorciados em segunda união não estará no centro das minhas conferências”, foi
essa a questão que mereceu maior destaque nos média.
Não pondo em
causa a doutrina oficial da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio, abordou
essa problemática e defendeu que é preciso explorar novos caminhos. Terá mesmo
proposto que as pessoas que se encontram nessa situação, depois de reconhecerem
o seu fracasso e de cumprirem um percurso penitencial, possam ser readmitidos à
confissão e à comunhão.
O Papa
Francisco felicitou Kasper pela sua exposição e deu, assim, um sinal claro que
está aberto a que se altere a práxis em relação aos divorciados a viverem uma
nova união. É evidente que a Igreja não vai deixar de propor o ideal de uma família
estável gerada a partir de um compromisso para toda a vida. Contudo, não pode
continuar insensível ao drama daqueles a quem é vedado o acesso aos sacramentos,
pelo facto de o seu matrimónio ter falhado e de terem reconstruido a vida com
outra pessoa.
Não será uma
tarefa fácil, mas, ao que parece, conta com o apoio do Papa que solicita uma
“pastoral inteligente, corajosa e cheia de amor” para a família.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 28/02/2014)
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