domingo, 2 de março de 2014

Igreja recupera os divorciados

Cardeal Walter Kasper foto retirada de IHU
A agenda do Papa no final da semana passada e início desta foi dominada pela temática da família.

Segunda e terça-feira desta semana reuniram com o Papa o relator geral e o secretário do Sínodo dos Bispos, respetivamente, o cardeal Peter Erdo, arcebispo de Budapest, e D. Bruno Forte, arcebispo da diocese italiana de Chieti e Vasto. Analisaram as respostas ao inquérito papal sobre a família, vindas de todo o mundo, e elaboraram uma primeira síntese. Nela transparece a “voz da Igreja”, a qual manifesta a “urgência de anunciar o Evangelho da família com novo impulso e modalidade”, bem como “os desafios e dificuldades associados à vida familiar e as suas eventuais crises”, diz um comunicado da Santa Sé relativo à reunião.

Dias antes, os cardeais refletiram sobre o matrimónio, o problema dos divorciados e a anulação dos casamentos. No início do Consistório que decorreu até sábado, o cardeal Walter Kasper propôs uma reflexão teológica sobre o matrimónio católico. Apesar de o próprio ter afirmado numa entrevista que “a questão dos divorciados em segunda união não estará no centro das minhas conferências”, foi essa a questão que mereceu maior destaque nos média.

Não pondo em causa a doutrina oficial da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio, abordou essa problemática e defendeu que é preciso explorar novos caminhos. Terá mesmo proposto que as pessoas que se encontram nessa situação, depois de reconhecerem o seu fracasso e de cumprirem um percurso penitencial, possam ser readmitidos à confissão e à comunhão.

O Papa Francisco felicitou Kasper pela sua exposição e deu, assim, um sinal claro que está aberto a que se altere a práxis em relação aos divorciados a viverem uma nova união. É evidente que a Igreja não vai deixar de propor o ideal de uma família estável gerada a partir de um compromisso para toda a vida. Contudo, não pode continuar insensível ao drama daqueles a quem é vedado o acesso aos sacramentos, pelo facto de o seu matrimónio ter falhado e de terem reconstruido a vida com outra pessoa.

Não será uma tarefa fácil, mas, ao que parece, conta com o apoio do Papa que solicita uma “pastoral inteligente, corajosa e cheia de amor” para a família.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 28/02/2014)

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