Homenagem aos heróis de Maidan (Foto retirada daqui) |
A crise
política na Ucrânia tem merecido destaque noticioso e provocado as mais
diversas análises e comentários. Trata-se de uma realidade política, social e
económica multifacetada e, também, religiosamente complexa.
Em termos religiosos,
a maioria dos ucranianos (cerca de 80%), declaram-se ortodoxos. Mas estão
filiados em três patriarcados distintos. Cerca de metade vive a sua fé em união
como o Patriarca de Kiev; um quarto está unida ao Patriarca Russo de Moscovo; e
a restante forma o Patriarcado Ucraniano Autocéfalo.
Logo a
seguir aos ortodoxos aparecem os católicos, que representam dez por cento da
população. Destes, a maioria (8%) são greco-católicos do rito oriental; e os
outros seguem o rito latino. Pertencem todos à Igreja Católica e estão unidos
ao Papa, mas os primeiros mantêm uma espiritualidade e uma forma de celebrar
mais próxima da Igreja Ortodoxa. Disciplinarmente também existem pequenas
diferenças: no rito oriental, por exemplo, existem padres casados.
Para além de
católicos e ortodoxos, cerca de dois por cento da população é protestante e
menos de um por cento professa a fé judaica.
Neste contexto, não é fácil o diálogo
ecuménico entre os diferentes credos cristãos. Durante a crise ucraniana,
contudo, este mosaico religioso uniu-se na defesa da paz. Procurou, por um
lado, influenciar os líderes políticos para que encontrassem formas de evitar o
deflagrar da violência. E, por outro lado, todas as igrejas e tradições
religiosas, estiveram presentes e acompanharam os manifestantes na Praça da Liberdade de
Kiev. Os greco-católicos, pela sua presença e apoio aos manifestantes, foram mesmo
ameaçados pelo poder, entretanto destituído, de virem a ser ilegalizados. Para Sviatoslav
Shevchuk, arcebispo greco-católico, a Igreja, embora não participando “no
processo político, não se pode retirar quando os seus fiéis lhe pedem ajuda
espiritual. Estar com os fiéis é um dever do sacerdote”.
Nesta como noutras crises e problemáticas políticas, as
igrejas, não se devendo imiscuir na política partidária, têm de defender de
forma intransigente os direitos humanos. Esse é, aliás, o seu primeiro
contributo para a promoção da paz social e da liberdade.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 07/03/2014)
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