A devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi-se desenvolvendo ao longo de séculos no interior da Igreja Católica. Ganhou particular relevância a partir das experiências místicas da Santa Margarida Maria Alacoque, entre dezembro de 1673 e junho de 1675. O Papa Francisco publicou uma encíclica comemorativa dos 350 anos da última visão relatada por essa santa, a que deu o título “Dilexit nos” (Amou-nos), divulgada na passada quinta-feira.
O Papa propõe um aprofundamento e uma atualização desta devoção. Esclarece que “as visões ou manifestações místicas narradas por alguns dos santos que propuseram apaixonadamente a devoção ao Coração de Cristo não são algo em que os crentes sejam obrigados a acreditar como se fossem a Palavra de Deus” (n.º 83). Contudo, quis conferir a dignidade de encíclica - na hierarquia dos textos papais é a categoria mais importante - à reflexão sobre o amor humano e divino que traduz o Coração de Jesus. Está convencido, explica Francisco, que “falta coração” ao Mundo atual.
São interessantes as propostas do Papa para atualizar algumas práticas tradicionais da devoção ao Sagrado Coração, como é o caso da comunhão eucarística nas primeiras sextas-feiras de cada mês ou da adoração às quintas-feiras.
A encíclica abre com um capítulo em que o Papa esclarece o que se deverá entender pelo conceito de “coração” e desafia este “mundo líquido” a “regressar ao coração” (n.º 9). Este, entendido como “o centro mais íntimo” da pessoa, no qual confluem todas as “suas componentes espirituais, psíquicas e também físicas” (n.º 21).
Falar do coração, ou do amor a ele associado, parece um tema desinteressante e gasto. O Papa teve a coragem de o abordar e de o repropor, destacando-o numa encíclica. Vale a pena gastar algum tempo a ler e deixar-se impregnar pelo primeiro capítulo deste texto.