Foto retirada daqui
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Contudo, ao longo dos séculos, foram cometidos abusos que levaram os fiéis a crer que é preciso pagar para se salvarem. Na Idade Média, por exemplo, vendiam-se e compravam-se indulgências, que eram, então, uma das principais formas de financiamento da Igreja.
Esse “comércio religioso” fez despoletar a revolta de Lutero e esteve na génese da Reforma Protestante. O Concílio de Trento procurou corrigir essa conceção errada da salvação e determinou que as “indulgências e outros favores espirituais de que o fiel não deve ser privado” devem ser administrados de forma gratuita, “de modo que todos pudessem finalmente compreender que estes tesouros celestes foram dispensados por causa da piedade e não do lucro”. Quatro anos apenas após o encerramento deste Concílio, em 1567, o Papa Pio V foi obrigado a ser ainda mais explícito e determinou que passava a ser proibido cobrar qualquer taxa ou valor pelas indulgências.
Apesar do esforço da Igreja para expurgar a sua atividade de todo o mercantilismo, ele prevalece no seu interior. É normal as pessoas dizerem que vão pagar a missa, o batizado ou o casamento.
Para um crente esclarecido a Eucaristia e os sacramentos têm um valor infinito. Nenhum dinheiro no mundo os pode pagar. Apenas se podem aceitar ofertas que a Igreja aplica na prossecução dos seus fins. E estes são, principalmente, o “culto divino”, a “sustentação do clero e dos outros ministros”, bem como as “obras do sagrado apostolado e de caridade, especialmente em favor dos necessitados” (cân. 1254 do Código de Direito Canónico).
Ainda que no contexto de alguns sacramentos se possa receber uma oferta, não se aceita qualquer quantia pela Confissão ou pela Unção dos Enfermos para sublinhar a gratuidade da salvação. Todavia, ainda muito há a fazer para expurgar a Igreja de algum “consumismo religioso”.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 18/12/2015)