Papa Francisco conversa com os jornalista no regresso a Roma Foto retirada daqui |
Quando Bento XVI visitou os Camarões e Angola, em Março
de 2009, a questão do preservativo acabou por captar a atenção mediática e
relegar para segundo plano questões tão importantes como, por exemplo, a
condenação veemente da corrupção.
A bordo do avião o Papa defendeu que “não se pode superar este problema da SIDA só com a
distribuição de preservativos”, mas que tal exigia “a conjugação
de dois factores: o primeiro, uma humanização da sexualidade” e “o segundo, uma
verdadeira amizade também e sobretudo pelas pessoas que sofrem”. Assim, Bento
XVI tentou alargar o âmbito da discussão em torno do uso do preservativo, mas o
que ficou foi que a Igreja continuava a ser contra o seu uso. Este Papa viria depois
a corrigir a sua posição afirmando claramente que o seu uso é justificado em
determinados casos.
Já o Papa Francisco, no regresso da visita ao Uganda, Quénia
e República Centro Africana, quando confrontado com a questão, também a bordo
do avião, furtou-se a dar uma resposta se “sim” ou “não” se deve usar. Insistiu
nas grandes questões que abordou em África e voltou a chamar a atenção para “a desnutrição,
a exploração das pessoas, o trabalho escravo, a falta de água potável: estes
são os problemas”, disse. E considerou que a “grande ferida” do continente
africano “é a injustiça social, a injustiça ao meio ambiente”. Desta forma o
Papa voltou aos principais assuntos da viagem por África, apelando ao diálogo e
à reconciliação entre as pessoas de diferentes religiões, etnias e condições
sociais.
É desta forma que a Igreja pode dar o seu maior
contributo ao mundo. Não “descer a reflexões de casuística”, nas palavras do
Papa Francisco, mas elevar a reflexão ao nível dos princípios e dos valores.
Mais importante do que ditar o uso ou não uso do
preservativo, a Igreja deve preocupar-se em propor valores, como sejam o
altruísmo e a abertura à vida, ou a humanização da sexualidade, como defendeu
Bento XVI. No fundo, é fazer o mesmo caminho que percorreu em relação à
organização política das sociedades: em vez de propor um modelo a partir da sua
Doutrina Social, fornecer os valores a respeitar no exercício do poder. E
denunciar todos os comportamentos que não os respeitam, sem canonizar um
qualquer sistema político.
O discernimento espiritual evangélico é, uma chave fundamental para compreender o modo pelo qual o papa Francisco vive o seu ministério, radicado na espiritualidade em que foi formado, um homem prático, que afirma "temos de ser normais"!
ResponderEliminarFalar o preservativo é uma questão casuística, mas falar dos métodos anticoncecionais artificiais é essencial, porque, que eu saiba, ainda se encontra em vigor a sua condenação liminar. Falar dos valores essenciais é realmente relevante, mas então a Igreja tem de ser coerente com este princípio e deixar de produzir documentos de condenação de tudo quanto se refere a sexualidade, como o fez na questão dos métodos anticoncecionais, no aborto, na fecundação medicamente assistida, etc. Agora, ficar no plano dos valores só quando dá jeito não me parece uma estratégia aceitável.
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