Ricardo Salgado Foto retirada daqui |
“A vocação dum empresário é uma nobre tarefa, desde que
se deixe interpelar por um sentido mais amplo da vida; isto permite-lhe servir verdadeiramente
o bem comum com o seu esforço por multiplicar e tornar os bens deste mundo mais
acessíveis a todos”, recordava o Papa Francisco no nº 203 da “Evangelii Gaudium”.
Já Bento XVI, na “Caritas in Veritate”, avisava que “a
economia e as finanças, enquanto instrumentos, podem ser mal utilizadas se quem
as gere tiver apenas referimentos egoístas. Deste modo é possível conseguir
transformar instrumentos de per si bons em instrumentos danosos; mas é a razão
obscurecida do homem que produz estas consequências, não o instrumento por si
mesmo” (nº 36).
De facto a Igreja não demoniza os mercados financeiros, mas
valoriza o seu papel fundamental no crescimento económico, “que permitiu, entre
outras coisas, apreciar as funções positivas da poupança para o desenvolvimento
integral do sistema económico e social”, como se pode ler no nº 368 do Compêndio
de Doutrina Social da Igreja, publicado em 2004, com o objetivo de apresentar
de forma sistemática o pensamento católico sobre as questões sociais.
O mesmo Compêndio cita João Paulo II para denunciar “as ações
e as atitudes opostas à vontade de Deus e ao bem do próximo” que corrompem a
atividade económica: “por um lado, há a avidez exclusiva do lucro; e, por outro
lado, a sede do poder, com o objetivo de impor aos outros a própria vontade. A
cada um destes comportamentos pode juntar-se, para os caracterizar melhor, a
expressão: ‘a qualquer preço’. Por outras palavras, estamos diante da
absolutização dos comportamentos humanos, com todas as consequências possíveis” (Sollicitudo Rei Socialis, nº 37).
Ambas as tendências parecem ter estado na génese do terramoto que ditou a derrocada do BES, bem como a queda do seu líder, “o banqueiro do regime”, como era considerado. Este que, se conhecia, não seguia a Doutrina Social da Igreja.
Ambas as tendências parecem ter estado na génese do terramoto que ditou a derrocada do BES, bem como a queda do seu líder, “o banqueiro do regime”, como era considerado. Este que, se conhecia, não seguia a Doutrina Social da Igreja.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 08/08/2014)
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