Conferência de imprensa de apresentação da peregrinação anual do migrante e refugiado ao Santuário de Fátima Foto: Fatima.pt, retirada daqui |
Os nossos bispos alinham o seu discurso com o do Papa
Francisco e não se coíbem de criticar o capitalismo, os políticos e a falta de
ética nos mercados.
D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, para
além de ter o mesmo nome que escolheu o Papa, tem manifestado as mesmas
preocupações pelos mais pobres nas palavras e em gestos, muito semelhantes.
Ainda neste S. João do Porto escolheu as famílias mais desfavorecidas da
Ribeira para com elas passar essas festividades.
Na homilia da missa da peregrinação anual do migrante e
refugiado ao Santuário de Fátima, anteontem, não disse, como o Papa, que “a
economia mata”. Mas deu o passo que se impõe, que é o de promover “uma economia
de rosto humano e solidário e um sistema financeiro assente na verdade”.
Um outro Francisco – o frei Francisco Sales, diretor da
Obra Católica Portuguesa para as Migrações – na conferência de imprensa de
apresentação da peregrinação foi ainda mais contundente do que o seu homónimo
na crítica às políticas que têm provocado um “grande fluxo migratório
português, quase uma sangria da população portuguesa, pela Europa e pelo mundo”.
Disse: “A emigração e as migrações são uma denúncia contra as políticas e
contra os governos, ou seja, contra a incompetência dos políticos criarem
condições para fixarem as suas populações”. E clarificou que essa incompetência
é “fruto de uma crise de valores, de uma corrupção política e financeira que
levou a que o país não tivesse condições para criar trabalhos e condições para
fixar particularmente os jovens”.
D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima e anfitrião da
peregrinação, classificou a turbulência financeira e bancária que se vive em
Portugal como mais uma manifestação da “ditadura do capitalismo financeiro e
especulativo”, como a apelidou Bento XVI. Lembrou também o Papa Francisco e
considerou o momento em que nos encontramos como o resultado da “tirania
económico-financeira, especulativa, virtual, desligada da economia real”.
São palavras corajosas em que transparece uma sintonia
com os pensamentos do anterior e do atual Papa. E – o que é fundamental –
evidenciam o mesmo compromisso com os problemas dos mais desfavorecidos.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 15/08/2014)
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