segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O Papa e o pastor

Foto retirada daqui
Na sua deslocação a Caserta, no sul de Itália, para participar na festa da padroeira Santa Ana, o Papa Francisco teve um encontro com a comunidade pentecostal daquela cidade e o pastor evangélico, Giovanni Traettino. Uma “visita privada”, segundo o sítio oficial da Santa Sé, um “encontro de irmãos” para o Papa, que desde Buenos Aires vêm trilhando um caminho de “amizade” e “proximidade”.

Uma iniciativa papal surpreendente para alguns, com a qual o próprio ironizou no final do seu discurso. “Alguns estarão espantados: ‘Mas, o Papa foi visitar os evangélicos!’ Foi encontrar irmãos! – respondeu – Porque, na verdade, foram eles que vieram primeiro visitar-me em Buenos Aires. [...] Agradeço-vos muito, peço que rezem por mim, preciso muito... para que ao menos eu seja melhor. Obrigado!”

Anteriormente, tinha denunciado os católicos que colaboraram com a ditadura fascista de Mussolini e perseguiram os evangélicos que eram considerados uma seita e “nocivos à identidade física e psíquica da raça” italiana. Com a conivência de muitos – e à denúncia de outros tantos – muitos evangélicos foram detidos, vários pastores foram deportados e as suas igrejas destruídas. Por todas essas atrocidades, cometidas na Itália dos anos 30, pediu perdão aos pentecostais.

Esta é mais uma atitude do Papa Francisco que incomodou alguns sectores mais tradicionalistas, tanto católicos como evangélicos. Se uns não veem com bons olhos o “mea culpa” papal, os outros não apreciaram o acolhimento do pastor Giovanni Traettino ao Papa, nem estas palavras de saudação dirigidas ao amigo Bergoglio: “A nossa alegria é grande pela sua visita [...] E tem que saber de uma coisa: pela sua pessoa, também entre nós evangélicos, há muito afeto e muitos de nós também rezamos todos os dias por si. Além do mais, é muito fácil gostar de si. Muitos de nós acreditamos que a sua eleição como Bispo de Roma tem sido obra do Espírito Santo”.

O Papa está convicto de que a divisão entre os cristãos não é obra do Espírito Santo, mas do Mal que espalha a semente da discórdia entre irmãos. E pensa, também, que a unidade não pode ser construída na uniformidade, mas no respeito pela diversidade e no apreço pelo diverso.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 01/08/2014)

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