Foto retirada do sítio Aleteia |
Os extremistas
muçulmanos do auto proclamado Estado Islâmico estão, na Planície de Nínive, a
fazer uma limpeza étnica e religiosa pelos territórios que conquistaram entre a
Síria e o Iraque. Todos os que não professam a fé em Alá segundo a tradição
sunita, ou se convertem, ou têm de abandonar a região para salvar a vida. Mesmo
os sunitas mais moderados, ou os xiitas, não escapam à perseguição, mas é
sobretudo aos curdos e aos cristãos que a intolerância religiosa está a
fustigar de forma mais dura.
Em Mossul, a
terceira cidade do Iraque, as casas dos cristãos foram assinaladas com a letra
“n” do alfabeto árabe, a inicial de “Nazareno”, o nome depreciativo dado aos
cristãos em ambientes islâmicos. Os seus habitantes foram despojados de todos
os bens e tiveram de optar entre o exílio e a morte. Durante esta semana saíram
da cidade os últimos três mil cristãos – quando, em 2003, após a invasão
liderada pelos Estados Unidos se
contabilizavam cerca de 35 mil.
Acaba, assim,
uma presença cristã de dois mil anos naquela zona do globo. Uma presença que
sobreviveu às controvérsias teológicas e heréticas dos primeiros séculos do
cristianismo, que resistiu às perseguições turcas e mongóis, que conviveu com a
cultura árabe. Uma presença que se instalou na região, arabizando-se nos seus
costumes mas mantendo a fé cristã.
Perante a
expulsão de Mossul o mundo ocidental remeteu-se a um silêncio “vergonhoso”,
como o classificou o Papa Francisco num telefonema ao Patriarca Sírio-católico
Youssef III Younan.
É
compreensível o embaraço dos líderes ocidentais que têm ziguezagueado no Médio
Oriente, apostando ora nos sunitas, ora nos xiitas: na Síria apoiam os sunitas
contra o ditador Bashar al-Assad; no Iraque defendem os xiitas que colocaram no
poder depois de os terem utilizado contra Saddam Hussein, o qual, por seu lado,
tinham apoiado nos anos 80 na guerra que este moveu ao xiitas do Irão.
O Ocidente
comporta-se na pior tradição dos que consideram amigos os inimigos dos seus
inimigos. É por isso que os sunitas são apoiados pela Ocidente na Síria e
inimigos no Iraque, os dois países onde estes querem controlar territórios para
criar o Califado Islâmico...
“Sic transit
gloria mundi”!
(Texto publicado no Correio da Manhã de 25/07/2014)
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