domingo, 20 de julho de 2014

Gaza e o Papa

Foto retirada daqui
Os assassinatos bárbaros de três jovens israelitas e a execução pelo fogo de um palestiniano fizeram despoletar, novamente, a guerra na Faixa de Gaza. Puseram fim a um período de alguma acalmia nas difíceis relações israelo-palestinianas. Mataram as sementes de reconciliação e paz que o Papa espalhou durante a sua visita àquela região e que germinaram no encontro entre o líder palestiniano, Mahmud Abbas, e o presidente israelita, Shimon Peres, com a bênção do Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu.

Nessas circunstâncias o Papa disse que “é preciso mais coragem para fazer a paz do que a guerra”. A evolução dos acontecimentos demonstraram que não houve nem coragem, nem discernimento para calar as armas – e dá a ideia de que os esforços do Papa de nada valeram. Porém, para o seu amigo judeu, Abraham Skorka, “o que está a acontecer não atesta o fracasso da iniciativa do Papa Francisco”. Pelo contrário, “confirma dramaticamente que é necessário continuar a promover ainda mais gestos de encontro para que a coragem prevaleça sobre o ódio irracional”.

Num simpósio sobre a Paz, que terminou ontem em Madrid, Rodríguez Zapatero propôs a criação de uma “autoridade religiosa global” que se opusesse a toda e qualquer violência e promovesse o pluralismo religioso, a paz e a liberdade. Para o antigo Presidente do Governo de Espanha, nenhuma religião pode pretender que as suas crenças sejam as únicas verdadeiras e que todas as outras formas de acreditar tenham de ser combatidas e eliminadas.

Foi esta perspetiva que esteve na génese de todas as guerras santas da história e que os fanatismos de todas as religiões, ainda hoje, querem ressuscitar. Contudo, num mundo plural e tolerante “não há hereges” para Zapatero: “Há pessoas que pensam de maneira diferente ou têm diferentes ideias e em nome de nenhuma fé se pode apoiar o ódio e o fanatismo”.

O Vaticano II resgatou a Igreja da intransigência e colocou-a na estrada da abertura ao diferente, embora ainda haja franjas no seu interior que resistem à renovação conciliar. Meio século depois, o Papa Francisco continua a desafiar os católicos a saírem dos seus muros e a percorrerem esse caminho de tolerância e diálogo inter-religioso.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 18/07/2014)

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