Foto retirada daqui |
O Papa Francisco retomou, esta semana, as audiências na
Praça de S. Pedro com críticas contundentes para o interior da Igreja. Regressou
à temática das divisões entre os cristãos, que já abordou noutras
circunstâncias, nomeadamente no encontro com os pentecostais. Agora, porém, aplica-a ao interior das
comunidades católicas e não tanto no âmbito do diálogo ecuménico.
A proposta do Papa foi uma reflexão sobre a “Igreja Una e
Santa”. Recordou que “há tantos pecados contra a unidade; e não pensemos apenas
nas heresias ou nos cismas, mas em faltas muito mais comuns, nos pecados ‘paroquiais’:
com efeito, as nossas paróquias, chamadas a ser lugares de partilha e comunhão,
infelizmente parecem marcadas por invejas, ciúmes, antipatias. Como se coscuvilha
nas paróquias! Isto não é Igreja, não se faz! É verdade que isso é humano, mas
não é cristão!”
São estas e outras críticas, acompanhadas por uma atitude
de compreensão para com os que andam afastados, que entusiasmam muitos e incomodam
alguns. Estes, aliás, têm promovido uma oposição silenciosa e sub-reptícia ao
Papa muito mais perigosa que um atentado terrorista.
Um atentado terrorista faria dele um mártir das suas
convicções e da renovação que propõe à Igreja e ao Mundo. Mas este terrorismo
eclesiástico é muito mais perigoso, porque procura descredibilizar e esvaziar a
dinâmica reformadora por ele introduzida.
“No início, criticaram-no pela simplicidade das suas
roupas, depois pela sua liberdade litúrgica, mais tarde por causa da sua
crítica ao sistema económico. Agora ficam incomodados com as visitas que faz
aos seus amigos – é mau que tenha amigos, pior ainda se são judeus, muçulmanos
ou pentecostais. Não gostam que ria, brinque, surpreenda, improvise, converse,
telefone, em resumo, que haja humanamente”, escreveu Marco Velásquez Uribe, no
sítio chileno “Reflexión y Liberación”.
Prossegue este autor: “A um nível mais elevado, e de
maneira mais orgânica, estrutura-se uma oposição dogmática. Silenciosamente,
vai ganhando força uma corrente teológica que, sem pudor, vai corrigindo os
desejos reformistas do papa”.
O que se deseja é que tanto o terrorismo externo como o
interno não consigam calar nem travar o Papa Francisco.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 29/08/2014)