Papa fala aos jornalistas no avião Foto retirada daqui |
A classificação dos líderes da Igreja como de direita ou
de esquerda, conservadores ou progressistas, habitualmente não é ajustada. Não
só por na política partidária serem cada vez mais difusas as diferenças entre a
esquerda e a direita. Mas, sobretudo, porque os responsáveis eclesiásticos têm
de, por um lado, ser fiéis à tradição da Igreja – e por isso conservadores –, e,
por outro lado, de ser fiéis ao dinamismo do Evangelho, o que os obriga a
atualizar a doutrina às circunstâncias concretas de cada tempo – e, por isso, a
ser progressistas.
O Papa Francisco tem sido aplaudido à esquerda, quando
critica o sistema capitalista, ou apela à ecologia, ou se preocupa com os
divorciados recasados e os homossexuais. E é aplaudido à direita quando defende
a família ou condena a legalização do aborto. Na sua última viagem ao
continente americano acabou por, de certa forma, desiludir os ditos
conservadores e progressistas, por não se deixar acantonar em nenhum dos polos.
Para os primeiros não foi suficientemente contundente na condenação do aborto e
dos casamentos homossexuais. Já para os segundos terá sido muito suave na
abordagem do problema dos homossexuais católicos ou do papel da mulher na
Igreja.
No voo entre Cuba e os Estados Unidos, foi mesmo
questionado se era “esquerdista” e até católico. Ao que ele respondeu: “Não
disse nada além do que está na Doutrina Social da Igreja.” Esclareceu depois que
o matrimónio continua a ser indissolúvel. Não há divórcio católico, apesar de
ter simplificado o processo de declaração de nulidade dos casamentos na Igreja.
Nestas posições alguns leram um virar à direita.
Na verdade, ele não é de esquerda nem de direita, mas
alguém que quer responder às questões que afetam e preocupam os homens e
mulheres de hoje. Como são o acolhimento aos divorciados recasados e aos
homossexuais, ou o papel da mulher na Igreja.
Para dar resposta a estes e outros problemas, o Papa quer
que se reflita, se discuta e que, à luz do Evangelho e em conformidade com a tradição
da Igreja, se encontrem as soluções adaptadas aos dias de hoje. Apesar de ter
pedido isso à Igreja, nomeadamente na preparação do próximo Sínodo dos Bispos,
ainda se nota pouco essa preocupação no interior das organizações católicas...
(Texto publicado no Correio da Manhã de 02/10/2015)
Muito bem Fernando. Uma saudação aqui de Trieste, esta linda cidade italiana na fronteira com Eslovenia. Terminei o meu trabalho em Roma e nada melhor do que aproveirar este fim de semana outonal para ver até terras de norte. Desta vez não a Veneza e Pádua, bastante conhecidas e já alguma vez visitadas, mas esta cidadezinha que tem o seu encanto. Hoje visitei o palacio de MIRAMARE, algo de simbólico para a cidade. Um pouco como o nosso caselo da Pena de Sintra.
ResponderEliminarMuito bem, essa classificação de direita e de esquerda é muito simplista e não dá conta da realidade e de todas as "sfumature" que se encontram na riqueza sempre nova e sempre antiga do Evangelho e da Tradição da Igreja. Os que querem acantonar o Papa Francisco em algum compartimento estanque de doutrina ou de visão da Igreja não cnseguirão certamente. Ele é muito mais versátil e capaz de retirar algo de novo da tradição bimilenar da Igreja.É o seu carisma, e precisamos de avançar com ele. Se não perdemos mesmo o comboio em aspetos importantes da vida da Igreja a nivel pastoral ou catequético. É bm deixar de apor etiquetas às pessoas. A Francisco certamente não lhe carão bem com a deceção de uns e outros como dizes. Mas estando sempre junto à pessoa humana sobretudo aquela que mais sofre, Isso é que é o importante. Continua Fernando. Abraço e saudações a toda a familia. Teofilo