sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A cultura e as Missões

Foto retirada daqui
Uma Igreja que não escuta as preocupações e inquietações dos seus contemporâneos, que não dialoga com o mundo e não tem uma palavra nova para lhes transmitir está a trair a sua primordial missão. “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc. 16, 15), é o primeiro e principal encargo que Jesus Ressuscitado confia aos seus discípulos na manhã de Páscoa. Num primeiro momento eles ficam fechados no Cenáculo, mas, após receberem a força do Espírito Santo, segundo Lucas, vencem então o medo e começam a anunciar Jesus Cristo morto e ressuscitado à multidão.

Desde então, a tarefa missionária é a mais importante e decisiva para a vida da Igreja. Para sublinhar esta característica – e todos os fiéis puderem refletir sobre esta realidade e dar o seu contributo – o terceiro domingo de outubro é celebrado como o Dia Mundial das Missões.

Ainda hoje, tal como aconteceu com os apóstolos, a Igreja sente o medo de sair e até de se deixar contaminar pelo mundo. Isso tem, aliás, levado o Papa Francisco a apelar continuamente a uma “Igreja em saída”, que vá ao encontro das “periferias existenciais e geográficas”. No passado, a Igreja permitiu que a sua atividade missionária servisse de justificação para a conquista, colonização e destruição de culturas ancestrais, como aconteceu, sobretudo, na América Latina e em África. Felizmente, a Igreja foi evoluindo na sua forma evangelizar.

“Hoje, a missão enfrenta o desafio de respeitar a necessidade que todos os povos têm de recomeçar das próprias raízes e de salvaguardar os valores das respetivas culturas. Trata-se de conhecer e respeitar outras tradições e sistemas filosóficos e de reconhecer a cada povo e cultura o direito de fazer-se ajudar pela própria tradição na compreensão do mistério de Deus e no acolhimento do Evangelho de Jesus, que é luz para as culturas e força transformadora das mesmas”, adverte o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano.

Há quinhentos anos achava-se normal que se impusesse a nossa cultura aos povos conquistados. Esperemos que não sejam precisos tantos anos para se perceber o disparate que é abandonarmos as nossas ancestrais tradições para assumir outras, como por exemplo o “Halloween”, que já aí vem...

(Texto publicado no Correio da Manhã de 23/10/2015)

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