sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O início do Sínodo

Primeiro "briefing" do Sínodo da família
Da esquerda para a direita:
Bruno Forte, Vingt-Trois, Péter Erdo e Federico Lombardi
Foto: LaPresse, retirada daqui
Os principais responsáveis pela condução dos trabalhos do Sínodo dos Bispos procuraram baixar as expectativas em relação aos resultados dessa reunião magna do episcopado mundial, que decorre no Vaticano desde o passado domingo até ao dia 25 deste mês.

No início dos trabalhos o cardeal Peter Erdö, relator geral do Sínodo, sublinhou o valor da “indissolubilidade do matrimónio proposta pelo próprio Jesus Cristo”, pelo que vê com dificuldade o acesso dos divorciados recasados aos sacramentos. Contudo, essa não é a única questão que será debatida, mas muito outras, organizadas em três grandes áreas temáticas: a escuta dos desafios sobre a família; o discernimento da vocação familiar; a missão da família hoje. São estes os três capítulos do “Instrumentum Laboris” que resultou da reflexão do último Sínodo e que constituem o ponto de partida do que agora se iniciou.

“Se viestes a Roma com a ideia de uma mudança espetacular da doutrina, regressareis desiludidos”, disse aos jornalistas no final do primeiro dia o responsável pela condução dos trabalhos, cardeal Vingt-Trois. Contudo, “este Sínodo não se reúne para não dizer nada”, afirmou na mesma conferência de imprensa o secretário especial do Sínodo, o arcebispo Bruno Forte.

Na abertura dos trabalhos do Sínodo o Papa Francisco colocou as balizas para a reflexão, não deixando de desafiar os padres sinodais: “Recordo que o Sínodo não é um congresso, ou um ‘parlatório’, não é um parlamento ou um senado, onde se procura o consenso”. Para o Papa, este deve ser um espaço em que a Igreja procura “ler a realidade com os olhos da fé”. Em que se questiona “sobre a fidelidade ao depósito da fé”, o qual não é “um museu para olhar ou salvaguardar, mas é uma fonte viva em que a Igreja sacia a sede para saciar e iluminar o depósito da vida”. Ou seja, o Sínodo deve ser fonte de inspiração para dialogar com o mundo contemporâneo e responder às suas questões.

Mesmo quem não conhece em profundidade a Igreja Católica, não deve esperar que esta, de repente, reescreva a doutrina que foi consolidando no seu seio ao longo de dois milénios. O que se deve aspirar – e já será um grande salto – é que as formulações doutrinais se adequem aos tempos atuais e deem resposta aos seus problemas.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 09/10/2015)

1 comentário:

  1. O Sínodo dos Bispos

    Nunca poderemos esperar dum Sínodo mudanças radicais da Doutrina, ou ver nele um órgão de governo pela vontade expressa da maioria.
    O Sínodo dos Bispos é convocado por delegação do Romano Pontífice, situando-se no âmbito da colegialidade plena. Trata-se, no dizer do Papa Paulo VI, de uma estrutura jovem, que há-de evoluir, sem esquecer nunca a sua natureza de organismo de ajuda ao sucessor de Pedro, no exercício da sua função primacial. O Sínodo, por si, não tem poder de iniciativa é um organismo com caráter meramente consultivo, que em algumas ocasiões pode ser deliberativo por delegação do Romano Pontífice (C. 343).
    O Sínodo é um conselho estável dos Bispos, constituído em Roma, para a Igreja universal e, sujeito direta e imediatamente à potestade do Papa, para manifestamente possibilitar que se expresse de forma mais eficaz a solicitude pela Igreja universal.
    O Concílio Vaticano II, quando fala de colegialidade, no Decreto sobre os Bispos e o regime das Dioceses (1963) propunha já que a Cúria fosse mais internacional. O próprio Papa Paulo VI manifestou, em várias alocuções à Cúria, a sua disposição em convocar em Roma os bispos, representantes de todos os episcopados, para o ajudarem na sua responsabilidade no governo da Igreja universal. Mas só em 1965, com o Decreto Christus Dominus, fica definitivamente instituído este órgão de ajuda ao Papa.

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