Primeiro "briefing" do Sínodo da família Da esquerda para a direita: Bruno Forte, Vingt-Trois, Péter Erdo e Federico Lombardi Foto: LaPresse, retirada daqui |
Os principais responsáveis pela condução dos trabalhos do
Sínodo dos Bispos procuraram baixar as expectativas em relação aos resultados
dessa reunião magna do episcopado mundial, que decorre no Vaticano desde o
passado domingo até ao dia 25 deste mês.
No início dos trabalhos o cardeal Peter Erdö, relator
geral do Sínodo, sublinhou o valor da “indissolubilidade do matrimónio proposta
pelo próprio Jesus Cristo”, pelo que vê com dificuldade o acesso dos
divorciados recasados aos sacramentos. Contudo, essa não é a única questão que
será debatida, mas muito outras, organizadas em três grandes áreas temáticas: a
escuta dos desafios sobre a família; o discernimento da vocação familiar; a
missão da família hoje. São estes os três capítulos do “Instrumentum Laboris”
que resultou da reflexão do último Sínodo e que constituem o ponto de partida
do que agora se iniciou.
“Se viestes a Roma com a ideia de uma mudança espetacular
da doutrina, regressareis desiludidos”, disse aos jornalistas no final do primeiro
dia o responsável pela condução dos trabalhos, cardeal Vingt-Trois. Contudo,
“este Sínodo não se reúne para não dizer nada”, afirmou na mesma conferência de
imprensa o secretário especial do Sínodo, o arcebispo Bruno Forte.
Na abertura dos trabalhos do Sínodo o Papa Francisco
colocou as balizas para a reflexão, não deixando de desafiar os padres
sinodais: “Recordo que o Sínodo não é um congresso, ou um ‘parlatório’, não é
um parlamento ou um senado, onde se procura o consenso”. Para o Papa, este deve
ser um espaço em que a Igreja procura “ler a realidade com os olhos da fé”. Em
que se questiona “sobre a fidelidade ao depósito da fé”, o qual não é “um museu
para olhar ou salvaguardar, mas é uma fonte viva em que a Igreja sacia a sede
para saciar e iluminar o depósito da vida”. Ou seja, o Sínodo deve ser fonte de
inspiração para dialogar com o mundo contemporâneo e responder às suas questões.
Mesmo quem não conhece em profundidade a Igreja
Católica, não deve esperar que esta, de repente, reescreva a doutrina que foi
consolidando no seu seio ao longo de dois milénios. O que se deve aspirar – e
já será um grande salto – é que as formulações doutrinais se adequem aos tempos
atuais e deem resposta aos seus problemas.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 09/10/2015)
O Sínodo dos Bispos
ResponderEliminarNunca poderemos esperar dum Sínodo mudanças radicais da Doutrina, ou ver nele um órgão de governo pela vontade expressa da maioria.
O Sínodo dos Bispos é convocado por delegação do Romano Pontífice, situando-se no âmbito da colegialidade plena. Trata-se, no dizer do Papa Paulo VI, de uma estrutura jovem, que há-de evoluir, sem esquecer nunca a sua natureza de organismo de ajuda ao sucessor de Pedro, no exercício da sua função primacial. O Sínodo, por si, não tem poder de iniciativa é um organismo com caráter meramente consultivo, que em algumas ocasiões pode ser deliberativo por delegação do Romano Pontífice (C. 343).
O Sínodo é um conselho estável dos Bispos, constituído em Roma, para a Igreja universal e, sujeito direta e imediatamente à potestade do Papa, para manifestamente possibilitar que se expresse de forma mais eficaz a solicitude pela Igreja universal.
O Concílio Vaticano II, quando fala de colegialidade, no Decreto sobre os Bispos e o regime das Dioceses (1963) propunha já que a Cúria fosse mais internacional. O próprio Papa Paulo VI manifestou, em várias alocuções à Cúria, a sua disposição em convocar em Roma os bispos, representantes de todos os episcopados, para o ajudarem na sua responsabilidade no governo da Igreja universal. Mas só em 1965, com o Decreto Christus Dominus, fica definitivamente instituído este órgão de ajuda ao Papa.