sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Igreja e as eleições

D. António Marto
Foto: Fatima.pt retirada daqui
O futuro político do país está dependente das decisões dos líderes políticos, particularmente de António Costa, que determinarão se teremos um governo de esquerda ou de direita. Os bispos portugueses acompanham estes tempos “de uma certa incerteza e ansiedade em todo o país”, como os classificou D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. E pediu aos políticos “para que, neste processo, manifestem uma profunda responsabilidade que os leve a colocar o interesse nacional acima de todos os interesses partidários”.

Já em relação à opção concreta por um governo de esquerda ou de direita, embora não seja uma questão “indiferente” e em que “cada um terá a sua opinião” – segundo o P. Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal – os bispos não se comprometem com nenhuma das soluções. Limitam-se a apelar à estabilidade governativa “porque o país está em primeiro lugar, tal como o interesse comum”.

Nesta posição estão em perfeita sintonia com os ensinamentos dos últimos Papas. “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política”, escrevia Bento XVI na Encíclica “Deus caritas est” (nº 28). “No diálogo com o Estado e com a sociedade, a Igreja não tem soluções para todas as questões específicas. Mas, juntamente com as várias forças sociais, acompanha as propostas que melhor correspondam à dignidade da pessoa humana e ao bem comum. Ao fazê-lo, propõe sempre com clareza os valores fundamentais da existência humana, para transmitir convicções que possam depois traduzir-se em ações políticas”, pode ler-se no nº 224 da “Evangelii Gaudium” do Papa Francisco.

No mesmo texto, o Papa diz: “Às vezes interrogo-me sobre quais são as pessoas que, no mundo atual, se preocupam realmente mais com gerar processos que construam um povo do que com obter resultados imediatos que produzam ganhos políticos fáceis, rápidos e efémeros, mas que não constroem a plenitude humana. A história julgá-los-á” (nº 224).

Para o bem do povo português, deseja-se que a intensa atividade política a que se tem assistido, e as decisões que venham a ser tomadas, não sejam corrompidas por um qualquer estéril e fútil tacticismo político-partidário. A história encarregar-se-á de julgar.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 16/10/2015)

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