sexta-feira, 10 de julho de 2015

A crise e a pobreza

Foto retirada daqui
A Europa está concentrada na resolução da crise grega e não estará a dar a devida atenção à visita do Papa Francisco ao Equador, à Bolívia e ao Paraguai.

As instituições europeias e o governo grego estão concentrados na discussão de um plano económico que concilie o pagamento das dívidas com a recuperação financeira do país e têm, porventura, esquecido as pessoas. Sobretudo as que mais sofrem com as consequências da falta de entendimento: os mais pobres.

Já no discurso e na atuação do Papa eles, os pobres, têm o maior destaque. Por isso, Francisco escolheu três dos países com mais pobreza na primeira visita por ele planeada à América Latina, uma vez que a ida ao Brasil estava já agendada pelo seu antecessor. Escolheu esses países para expor ao mundo as virtualidades, e os problemas, do continente que ele tão bem conhece.

Logo nas primeiras palavras em Quito, capital do Equador, referiu os contributos que o Evangelho pode oferecer “para que as realizações alcançadas no progresso e desenvolvimento se consolidem e possam garantir um futuro melhor para todos, prestando especial atenção aos nossos irmãos mais frágeis e às minorias mais vulneráveis, uma dívida que tem ainda toda a América Latina”.

Também aos universitários transmitiu a sua preocupação com os esquecidos da sociedade. E recordou um pensamento já expresso na Evangelii Gaudium: “Um pobre morre por causa do frio e da fome e isso não é notícia, mas se as bolsas das principais capitais do mundo caem dois ou três pontos arma-se um grande escândalo mundial”.

Antecipando as vozes que consideram o discurso do Papa demasiado à “esquerda”, disse no encontro com os representantes da sociedade equatoriana: “Vós podeis perguntar-me: Padre, porque fala tanto destes temas? Simplesmente porque esta realidade, e a resposta a esta realidade, estão no coração do Evangelho, está no protocolo de Mateus 25”. (Nesse texto do Evangelho, Jesus diz ao seu discípulos que sempre que dão de comer e de vestir aos mais pobres ou visitam os doentes e os detidos é a Ele que visitam).

Se os mais pobres dos europeus fossem a maior preocupação dos seus líderes, talvez já se tivesse encontrado uma solução para o problema da dívida grega e das dívidas soberanas de outros estados da União Europeia.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 10/07/2015)

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