II Encontro Mundial de Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia Foto de Lydiane Ponciano, retirada daqui |
O Papa Francisco concluiu a visita à América Latina.
Deixou uma palavra de apoio às mudanças que se estão a operar nos países por
onde passou, destacando as que promovem uma sociedade mais justa e inclusiva.
Foi muito crítico em relação ao sistema socioeconómico que tudo submete à “lógica
do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da
natureza”. Sobretudo no discurso aos movimentos populares reunidos na Bolívia.
“Com sua habitual franqueza, o papa defendeu para todos
esses ‘semeadores de mudança’ o acesso aos direitos sagrados dos ‘Três Ts’ –
teto, trabalho, terra – e uma distribuição diferente das riquezas. Com tons
quase revolucionários, ele condenou ‘o esterco do diabo’, ‘a ambição
desenfreada do dinheiro que governa o sistema’ e ainda ‘a economia que mata’”,
podia-se ler no editorial do jornal francês “Le Monde”, intitulado “A revolução
social do Papa Francisco”.
O “Religión Digital” classifica como uma “refundação da
Doutrina Social da Igreja” o discurso do Papa. “Depois de termos ouvido vários
Papas abordar os perigos da ‘ditadura do proletariado’ (comunismo) e da
‘ditadura do relativismo’ (modernidade), finalmente agora um papa teve a
coragem de denunciar a ‘ditadura subtil’ do atual sistema capitalista
neoliberal globalizado que vai deixando as suas marcas e o seu ‘cheiro’ podre
na sociedade e na natureza: o ‘esterco do diabo’ (em latim, stercore diaboli,
um bom nome para esta “Encíclica”) onde reina a ambição desenfreada por
dinheiro”, disse Sérgio Coutinho, professor de História da Igreja no Brasil, a esse sítio religioso.
As palavras corajosas de Bergoglio incomodam muitos
que continuam a incensar o sistema capitalista e a professar a fé cega no
mercado livre, até em cursos de economia das universidades católicas. Destacam
as suas virtualidades e escamoteiam as suas perversidades, que estão na génese
de fenómenos de “pobreza, desigualdade e exclusão”. A esses, o vaticanista
Andrea Tornelli recorda que o Papa se limita a repropor os ensinamentos da
tradição cristã. E a discussão não deve ser se ele é “comunista ou se fala
demasiado dos pobres”, mas “por que é que na Igreja estes ensinamentos têm sido
esquecidos ao ponto de parecer revolucionária a pregação do Papa argentino?”
(Texto publicado no Correio da Manhã de 17/07/2015)
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