Foto: Reuters/Yannis Behrakis retirada daqui |
A crise grega é mais um sintoma das fragilidades da construção europeia e da sua união monetária.
É certo que governos de diferentes cores políticas, com a adoção de políticas ruinosas conduziram a Grécia ao colapso financeiro e económico. A intervenção da Troika e a austeridade aplicada aos gregos, que deveria ser um programa de auxílio, em vez de resolver os seus problemas, agravou-os ainda mais. Os líderes europeus não tiveram a clarividência de avaliar os reais resultados das suas políticas – e, assim, não emendaram os seus próprios erros e persistiram na obsessão de obrigar os gregos a expiar os “pecados políticos” cometidos no passado.
Contudo, não foram os políticos ou os responsáveis pelas instituições financeiras que pagaram pelos seus erros. Foi o povo, e os mais pobres, os que mais sofreram e continuam a arcar com as consequências da irresponsabilidade dos seus líderes.
O arrastar da situação grega e a incapacidade de encontrar uma solução demonstra, não só a inépcia dos líderes europeus, mas também a sua insensibilidade para com a situação dramática das pessoas que perderam o seu emprego, que foram despejados na rua ou que não fazem ideia do que comerão amanhã.
Por isso o Papa Francisco, para além de manifestar a sua solidariedade e preocupação com o povo helénico, veio lembrar aos políticos que “a dignidade da pessoa humana deve permanecer no centro de todos os debates políticos e técnicos, assim como na tomada de decisões responsáveis”.
Há quase cinquenta anos, em 1967, na encíclica Populorum Progressio, Paulo VI propunha a visão cristã do desenvolvimento que “não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo” (nº 14).
Vivemos tempos em que dignidade da pessoa e a promoção de todos e de cada um são frequentemente esquecidas no debate político e subalternizadas à ditadura da finança. Tempos de “uma economia globalizada e financeirizada, que se sobrepõe à política”. Em que os “bancos são salvos da falência enquanto as pessoas perdem as casas onde vivem porque não têm condições de continuar honrando seus empréstimos”, denuncia esta semana o Instituto Humanitas Unisinos, de uma universidade jesuíta no Brasil.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 03/07/2015)
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