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Os bispos
portugueses aprovaram, na sua última assembleia, um “modelo de estatutos” a
aplicar aos Centros Sociais Paroquiais para adequar os atuais à legislação aprovada
no final do ano passado, que regulamenta as Instituições Particulares de
Solidariedade Social (IPSS).
Nos “novos
estatutos” os párocos deixam de ser os presidentes por inerência e passam a “poder”
desempenhar esse cargo. Houve quem lesse essa alteração como uma perca de poder
dos sacerdotes. Ou, então, o desejo dos bispos de os afastarem da direção das
IPSS’s.
D. Manuel
Clemente, no final da reunião dos bispos, apressou-se a esclarecer que “não
está isso em causa”. E reconheceu que “nós, como sociedade, não só como Igreja,
somos muito devedores a excelentes padres que investiram o melhor que tinham,
que sabiam e podiam, para criar e sustentar instituições de solidariedade
social”.
Na verdade,
as alterações introduzidas vêm permitir que um sacerdote que não se sinta
capacitado, ou com disponibilidade, para dirigir essas instituições, possa
escolher entre os seus paroquianos alguém mais indicado para o fazer e proponha
a sua nomeação ao bispo.
Seja clérigo
ou leigo, não é evangélico assumir esse encargo como uma posição de poder; ele
deve é ser exercido numa atitude de serviço aos mais pobres. “Quem quiser ser o
primeiro entre vós, faça-se o servo de todos”, recomendou Jesus aos seus
discípulos (Mc. 10, 44). Ou, como diz o Papa Francisco, que tem mesmo um livro
com esse título, “o verdadeiro poder é o serviço”.
Não falta,
todavia, quem aspire à direção de uma IPSS, mais atraído pelas quantias que
movimenta e pelos empregos que garante do que por uma genuína caridade cristã
ou pelo serviço à comunidade. Isso pode levar, como já levou, a que por vezes os
recursos sejam usados, não para combater a pobreza, mas para gerar e alimentar “clientelas”.
Uma tentação a que ninguém está imune, tanto padres como leigos, e que pode mesmo
descambar em esquemas de corrupção e de tráfico de influências.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 24/04/2015)