Foto Lusa retirada daqui |
Há dois anos Bento XVI tornava pública a sua resignação. Um gesto
inesperado que abriu caminho ao advento de Francisco. Desde então sentiram-se
na Igreja ventos de renovação.
Precisamente um mês após a sua eleição, a 13 de Abril de 2013, o Papa
Francisco criou o conselho composto por nove cardeais (C9), oriundos dos cinco
continentes, para o coadjuvar no governo da Igreja. Começou
a funcionar em Setembro desse ano e apresentou ontem as suas primeiras
propostas para a reforma da Cúria aos cardeais de todo o mundo. Estes estão
reunidos no Vaticano, num Consistório que já inclui aqueles que irão receber o
barrete cardinalício amanhã.
O C9 não
está a criar uma nova Igreja, mas, em sintonia com o Papa, estão a contribuir
para que se respire “um ar fresco” e se dê “um passo em frente” em muitas
matérias, como disse um dos seus membros, o cardeal Reinhard Marx, numa
entrevista ao sítio “Religión Digital”.
Alguns dos
passos que a Igreja tem dado recuperam ideias que o Concílio Vaticano II propôs,
outros aprofundam preocupações dos últimos Sumo Pontífices. E outros aventuram-se
por caminhos nunca antes trilhados.
A
“desclericalização” da Cúria e a atribuição de papéis relevantes aos leigos na
sua orgânica retoma a perspetiva conciliar da dignificação do laicado, deixando
de o subalternizar em relação ao clero. Um exemplo disso é a Pontifícia
Comissão para Tutela dos Menores, constituída por leigos e clérigos, onde os
primeiros têm um papel relevante.
Esta semana decorreu
em Roma uma reunião plenária dessa comissão, a qual propôs a responsabilização
dos bispos, e dos responsáveis de congregações religiosas, nos casos de negligência
ou de tentativa de encobrimento de comportamentos pedófilos no interior das
suas comunidades. Intensifica-se, assim, a luta contra a pedofilia iniciada por
João Paulo II e aprofundada por Bento XVI.
O
acolhimento pastoral às famílias em situações irregulares é um dos caminhos em
que a Igreja se está a aventurar e que tem motivado algumas das críticas mais
contundentes ao Papa, vindas dos que se opõem a qualquer flexibilização da
doutrina católica sobre o matrimónio.
Deseja-se
que, apesar dessa oposição interna, os ventos de mudança continuem a soprar e a
renovar a multissecular Igreja Católica.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 13/02/2015)
Sem comentários:
Enviar um comentário