sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Tocar o leproso

Foto retirada daqui
As periferias e os marginalizados ganharam o lugar central nas preocupações e no discurso do Papa Francisco.

No tempo de Jesus, os leprosos eram obrigados a viver fora do acampamento ou das povoações para “salvar os sãos”. Marginalizava-se o “perigo” sem compaixão para com o contagiado, “para proteger os justos”, recordou o Papa na homilia do domingo passado.

Quem ousasse tocar o leproso sujeitava-se à mesma pena, viver à margem da sociedade. Jesus não hesitou em tocar o leproso, para o curar e reintegrar. Como não se coibiu de conviver com os pecadores, os publicanos e as prostitutas, apesar da recriminação dos “puros” – os doutores da lei, os fariseus ou a casta sacerdotal.

São abordagens diferentes que no evangelho se confrontam e que continuam a verificar-se nos nossos dias. “Hoje, às vezes, também acontece encontrarmo-nos na encruzilhada destas duas lógicas: a dos doutores da lei, ou seja: marginalizar o perigo afastando a pessoa contagiada; e a lógica de Deus: este, com a sua misericórdia, abraça e acolhe, reintegrando e transformando o mal em bem, a condenação em salvação e a exclusão em anúncio”, disse o Papa.

Jesus ilustrou a lógica da misericórdia com as parábolas da ovelha perdida, da moeda encontrada e do filho pródigo (Lc. 15). Desafia os seus discípulos a deixarem as noventa e nove para ir à procura da que anda perdida. Hoje como ontem, não faltam os que têm medo de abandonar as noventa e nove “justas” para se aventurar à procura da que se afastou do rebanho. E tudo fazem para as proteger do contágio das que andam tresmalhadas. Por vezes nem se apercebem que nas últimas décadas, em vez de uma, foram noventa e nove as que se afastaram de uma Igreja que resiste em sair de si. Cristalizada numa “casta” de puros, com receio de se deixar contaminar pelo mundo.

O Papa advertiu os cardeais e os cristãos, neste Domingo, para que “não se sintam tentados a estar com Jesus sem quererem estar com os marginalizados, isolando-se numa casta que nada tem de autenticamente eclesial”.

Depois de ter proposto o evangelho da alegria, na sua primeira exortação apostólica, agora enuncia o evangelho dos marginalizados. Porque, conclui o Papa, “é no evangelho dos marginalizados que se joga, descobre e revela a nossa credibilidade!”

(Texto publicado no Correio da Manhã de 20/02/2015)

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