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Os média foram acusados de dar mais destaque às situações
irregulares do que à reflexão dos padres sinodais sobre a família. Estes, no
entanto, discutiram-nas sem pôr em questão “as verdades fundamentais do
sacramento do Matrimónio: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a
procriação, ou seja, a abertura à vida”, referiu o Papa no discurso de
encerramento do Sínodo.
D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, considerou mesmo
que a excessiva mediatização das questões mais polémicas “provocou um certo
recuo” na assembleia sinodal, influenciando os trabalhos dos grupos
linguísticos. As votações do relatório final do Sínodo revelam esse “recuo” dos
bispos em relação às uniões de facto ou civis, ao acesso dos divorciados recasados
aos sacramentos e, também, ao acolhimento dos homossexuais.
O parágrafo em que se pede uma “nova sensibilidade da
pastoral hodierna, que consiste em colher os elementos positivos presentes nos
matrimónios civis e, tendo em conta as devidas diferenças, nas uniões de
facto”, passou com apenas três votos acima dos dois terços exigidos para a
aprovação.
Já os parágrafos que abordavam as questões dos
divorciados recasados e dos homossexuais, não tiveram essa maioria qualificada.
Por essa razão, não deveriam constar do documento final do Sínodo, apesar de
terem a aprovação de mais de metade dos votantes. Por imposição do Papa, foram
incluídos.
Para que ficasse claro que estes temas não obtiveram a
aprovação formal do Sínodo, Francisco fez publicar a votação discriminada por
parágrafo. Algo que nunca tinha acontecido em nenhum relatório anterior. Para
além disso, por sua iniciativa pessoal, fez do “Relatio Synodi” o “Lineamenta”
do próximo. Ou seja, transformou este relatório em documento preparatório da
próxima reunião sinodal – outra novidade.
Estas duas inovações demonstram a determinação do Papa em
não deixar cair essas questões. Apesar de não as ter visto aprovadas pelo
Sínodo, ao incluí-las no “Lineamenta” obriga os bispos e os fiéis a refleti-las
durante o próximo ano.
O que se desenhava como a primeira derrota do Papa, acabou
por se converter numa manifestação da sua firmeza na liderança da Igreja.
Aguardemos os próximos capítulos.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 24/10/2014)
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