domingo, 26 de outubro de 2014

Um Papa determinado

Foto retirada daqui
Os média foram acusados de dar mais destaque às situações irregulares do que à reflexão dos padres sinodais sobre a família. Estes, no entanto, discutiram-nas sem pôr em questão “as verdades fundamentais do sacramento do Matrimónio: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a procriação, ou seja, a abertura à vida”, referiu o Papa no discurso de encerramento do Sínodo.

D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, considerou mesmo que a excessiva mediatização das questões mais polémicas “provocou um certo recuo” na assembleia sinodal, influenciando os trabalhos dos grupos linguísticos. As votações do relatório final do Sínodo revelam esse “recuo” dos bispos em relação às uniões de facto ou civis, ao acesso dos divorciados recasados aos sacramentos e, também, ao acolhimento dos homossexuais.

O parágrafo em que se pede uma “nova sensibilidade da pastoral hodierna, que consiste em colher os elementos positivos presentes nos matrimónios civis e, tendo em conta as devidas diferenças, nas uniões de facto”, passou com apenas três votos acima dos dois terços exigidos para a aprovação.

Já os parágrafos que abordavam as questões dos divorciados recasados e dos homossexuais, não tiveram essa maioria qualificada. Por essa razão, não deveriam constar do documento final do Sínodo, apesar de terem a aprovação de mais de metade dos votantes. Por imposição do Papa, foram incluídos.

Para que ficasse claro que estes temas não obtiveram a aprovação formal do Sínodo, Francisco fez publicar a votação discriminada por parágrafo. Algo que nunca tinha acontecido em nenhum relatório anterior. Para além disso, por sua iniciativa pessoal, fez do “Relatio Synodi” o “Lineamenta” do próximo. Ou seja, transformou este relatório em documento preparatório da próxima reunião sinodal – outra novidade.

Estas duas inovações demonstram a determinação do Papa em não deixar cair essas questões. Apesar de não as ter visto aprovadas pelo Sínodo, ao incluí-las no “Lineamenta” obriga os bispos e os fiéis a refleti-las durante o próximo ano.

O que se desenhava como a primeira derrota do Papa, acabou por se converter numa manifestação da sua firmeza na liderança da Igreja. Aguardemos os próximos capítulos.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 24/10/2014)

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