Foto Osservatore Romano/AFP retirada daqui
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Nos
primeiros dias do Sínodo Extraordinário sobre a família, muitos dos
participantes reconheceram que a forma como as pessoas são rotuladas no
discurso eclesiástico não as ajuda a aproximarem-se da Igreja. Num dos
primeiros “briefings”, foi referido que certas expressões muito utilizadas na
linguagem eclesiástica deviam ser abandonadas. Entre essas, destacavam: “Viver
em pecado”, uma referência habitual às pessoas que coabitam antes do casamento;
“intrinsecamente desordenados”, uma classificação típica dos homossexuais; e
ainda, “mentalidade contracetiva” uma categorização frequente de uma sociedade
que não respeita a vida.
O relatório apresentado
pelo cardeal Péter Erdő na segunda-feira que resume a primeira semana de debate
traduz bem essa preocupação dos padres sinodais. Na abordagem da convivência
pré-matrimonial é mesmo sublinhada a necessidade de acolher e acompanhar as
pessoas nessa situação, pelos mais diversos motivos, com “delicadeza e
paciência”.
Em relação à
homossexualidade, a expressão referida não é utilizada. O que se afirma é que “os
homossexuais têm dons e qualidades para oferecer à comunidade cristã”. E
questiona-se: “Somos capazes de acolher essas pessoas, garantindo-lhes um
espaço fraterno em nossas comunidades”?
Quanto ao
controlo da natalidade, sem deixar de sublinhar “a abertura à vida” como
“exigência intrínseca do amor conjugal”, reconhece-se a “necessidade de
respeitar a dignidade da pessoa, na avaliação moral dos métodos de regulação da
natalidade”. Ou seja, sustenta-se o respeito pela “consciência pessoal do
indivíduo”, conclui o padre jesuíta James Martin num artigo da revista “América”.
A forma como
o Sínodo está a abordar a temática da família tem abanado os pilares em que se
edificou a conceção católica do matrimónio. O relatório é mais um abanão. Para o
vaticanista John Travis é um “grande terramoto”, antecedido por “meses de
pequenos tremores de terra”.
Espera-se que esta abordagem não reduza a escombros a
doutrina tradicional sobre a família, como temem alguns. Mas cresce a
expectativa quanto à flexibilidade que será dada aos seus fundamentos para
acolher “os valores presentes nas famílias feridas e nas situações
irregulares”.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 17/10/2014)
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