sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O Sínodo da família

Sínodo dos Bispos sobre a Família
Foto retirada daqui
O Papa abriu o Sínodo dos Bispos pedindo aos participantes que falem claro e escutem com humildade. É neste clima de abertura que os padres sinodais vão abordar temas como o divórcio, a contraceção, o aborto, as uniões de facto, os casais homossexuais, as crianças no interior de uniões homossexuais, a poligamia, o papel eclesial e social da família, a eventualidade de conceder a comunhão aos recasados.

De entre todos, o que tem merecido maior atenção mediática é o do acesso aos sacramentos por parte de quem rompeu uma anterior união e se voltou a casar. Para quem permanece só esse problema não se põe, isto porque, apesar de estar separado, continua fiel à primeira união, não lhe podendo ser negada a comunhão, ou ser padrinho ou madrinha.

Tudo isso está vedado aos recasados. É essa situação que inúmeros casais vivem com sofrimento e pedem à Igreja que encontre uma saída para a sua situação. O Papa já manifestou que é sensível a essas inquietações e pede ao Sínodo que dê uma resposta a estas pessoas.

Quanto a ela, os mais intransigentes defendem que não se pode pôr em causa o princípio da insolubilidade e da unicidade. Não admitem, por isso, nem mesmo um aligeirar do processo canónico de declaração de nulidade do anterior matrimónio, como alguns propõe. Fundamentam a sua posição na tradição da Igreja e nas palavras de Jesus: “Não separe o homem o que Deus uniu” (Mc. 10, 9).

Jean-Paul Vesco, bispo de Oran, na Argélia, numa entrevista à revista “La Vie”, diz acreditar que “é teologicamente possível afirmar, ao mesmo tempo, a indissolubilidade de qualquer verdadeiro amor conjugal, a unicidade do matrimônio sacramental e a possibilidade de um perdão em caso de fracasso do que constitui uma das mais belas, mas também das mais perigosas aventuras humanas, o casamento para toda a vida”.

Na Igreja primitiva era comum “uma prática de tolerância pastoral, clemência e paciência após um período de penitência”, dos divorciados, recorda também o cardeal Kasper, no livro “Evangelho da família”.

Compete agora ao Sínodo essa árdua tarefa de procurar conciliar o que aparentemente é irreconciliável: indissolubilidade e misericórdia. Eventualmente, recuperando procedimentos do passado.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 10/10/2014)

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