Foto AFP retirada daqui |
O Papa
promoveu um encontro global dos movimentos populares que lutam por causas como
a erradicação da pobreza ou a inclusão social, tanto nos países ricos como nos
países (ditos) do Terceiro Mundo, esta semana no Vaticano. Estas organizações reuniram-se
pela primeira vez em Porto Alegre, no Brasil, em 2001 reagindo ao encontro
anual de banqueiros e empresários em Davos, na Suíça. Desde então formam o
“Fórum Mundial Social”, que nas suas primeiras edições continuou a realizar-se
naquela cidade brasileira, tendo depois rumado a outras paragens.
É a primeira
vez que um Papa se encontra com representantes de movimentos como os Sem Terra
do Brasil, os Indignados de Espanha ou as associações que lutam em África
contra a compra de enormes áreas de terreno para as destinar a culturas
intensivas, como a produção de biocombustíveis. Para além de os receber juntou
a sua voz à deles para dar um ainda maior impacto às suas reivindicações, mesmo
correndo o risco de ser apelidado de “comunista”.
“É estranho,
mas, quando falo destas coisas, alguns concluem que o Papa é comunista. Não percebem
que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho –
isso pelo que vós lutais – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada estranho,
é a doutrina social da Igreja", disse no discurso de encerramento do
encontro.
Também não
se coibiu de voltar a criticar o sistema económico que coloca no centro o “Deus
do dinheiro e não a pessoa humana”. E pediu aos políticos que abandonassem o “assistencialismo
paternalista” e promovessem “novas formas de participação que incluam os
movimentos populares e animem as estruturas de governo locais, nacionais e
internacionais com esta torrente de energia moral que surge da incorporação dos
excluídos na construção do destino comum”.
Desta forma, o Papa, mais uma vez, perante os
atropelos à dignidade humana, dá um sinal claro de que prefere correr o risco
de ser criticado a ficar calado. Prefere “uma Igreja acidentada, ferida e
enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e
a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”, tal como ele próprio
escreveu na Evangelii Gaudium.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 31/10/2014)
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