sábado, 4 de outubro de 2014

Pode-se criticar o Papa?

O bispo Livieres Plano reage à remoção e diz que "o Papa terá de prestar contas a Deus".
Foto retirada de Aleteia.org
O bispo paraguaio Livieres Plano reagiu violentamente à remoção que lhe foi imposta pela Santa Sé através de uma carta enviada ao Prefeito da Congregação dos Bispos, o cardeal Marc Ouellet. Chega mesmo a considerar que o afastamento da diocese de Ciudad del Este é uma decisão “infundada e arbitrária e sobre a qual o Papa terá que prestar contas a Deus”.

Foi noticiado que o principal motivo a ditar a remoção do bispo foi o encobrimento e a defesa de um sacerdote acusado de pedofilia nos Estados Unidos. São várias, contudo, as razões que levaram o Vaticano a investigar aquela diocese e o seu bispo. “Livieres não foi removido por questões de pedofilia”, disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, ao Catholic News Service. “Esse não foi o problema principal”, sublinhou, e esclareceu que na base desta “grave decisão” estiveram “problemas sérios na administração da diocese, na formação do clero e nas relações como os outros bispos”.

A relação de Livieres com os outros bispos foi sempre tensa. Agudizou-se quando retirou os seus seminaristas do único seminário do Paraguai, por considerar que a formação ali ministrada era “deficiente” e muito influenciada pela Teologia da Libertação. Criou um seminário próprio, com uma orientação mais tradicionalista e com apenas quatro anos de estudo, em vez dos seis que a Santa Sé recomenda. Recentemente envolveu-se numa polémica com um outro bispo do seu país, que chegou a apelidar de homossexual.

Foi este ambiente de crispação que ditou a sua remoção e, depois, o ataque que o próprio fez à decisão do Papa. Uma reação que é surpreendente para quem criticou o bispo Fernando Lugo quando este se candidatou à presidência do Paraguai, por não acatar as ordens de João Paulo II. Liviers não é o único que no passado defendeu um seguimento incondicional das determinações do Papa mas que, agora, quando lhe toca a ele e não lhe agradam, já se sente à vontade para as criticar e até por em causa.

Apesar de alguns sectores sustentarem a obediência cega às resoluções do Papa, talvez seja mais sensato admitir que até as decisões papais são passíveis de serem discutidas. O que não se pode é pôr em causa a unidade em torno do essencial da fé.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 03/10/2014)

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