O bispo Livieres Plano reage à remoção e diz que "o Papa terá de prestar contas a Deus". Foto retirada de Aleteia.org |
O bispo paraguaio Livieres Plano reagiu violentamente à
remoção que lhe foi imposta pela Santa Sé através de uma carta enviada ao
Prefeito da Congregação dos Bispos, o cardeal Marc Ouellet. Chega mesmo a
considerar que o afastamento da diocese de Ciudad del Este é uma decisão “infundada
e arbitrária e sobre a qual o Papa terá que prestar contas a Deus”.
Foi noticiado que o principal motivo a ditar a remoção do
bispo foi o encobrimento e a defesa de um sacerdote acusado de pedofilia nos
Estados Unidos. São várias, contudo, as razões que levaram o Vaticano a
investigar aquela diocese e o seu bispo. “Livieres não foi removido por questões
de pedofilia”, disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, ao
Catholic News Service. “Esse não foi o problema principal”, sublinhou, e
esclareceu que na base desta “grave decisão” estiveram “problemas sérios na
administração da diocese, na formação do clero e nas relações como os outros
bispos”.
A relação de Livieres com os outros bispos foi sempre
tensa. Agudizou-se quando retirou os seus seminaristas do único seminário do
Paraguai, por considerar que a formação ali ministrada era “deficiente” e muito
influenciada pela Teologia da Libertação. Criou um seminário próprio, com uma
orientação mais tradicionalista e com apenas quatro anos de estudo, em vez dos
seis que a Santa Sé recomenda. Recentemente envolveu-se numa polémica com um
outro bispo do seu país, que chegou a apelidar de homossexual.
Foi este ambiente de crispação que ditou a sua remoção e,
depois, o ataque que o próprio fez à decisão do Papa. Uma reação que é surpreendente
para quem criticou o bispo Fernando Lugo quando este se candidatou à presidência
do Paraguai, por não acatar as ordens de João Paulo II. Liviers não é o único
que no passado defendeu um seguimento incondicional das determinações do Papa
mas que, agora, quando lhe toca a ele e não lhe agradam, já se sente à vontade
para as criticar e até por em causa.
Apesar de alguns sectores sustentarem a obediência cega
às resoluções do Papa, talvez seja mais sensato admitir que até as decisões papais
são passíveis de serem discutidas. O que não se pode é pôr em causa a unidade
em torno do essencial da fé.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 03/10/2014)
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