A Igreja Católica
em Portugal, sobretudo a hierarquia, deixou-se conotar com o “Estado Novo”,
apesar de alguns bispos, padres e muitos leigos terem tomado posições
contundentes contra o regime. De entre os primeiros destacaram-se D. Sebastião
Resende, bispo da Beira, D. Manuel Vieira Pinto, bispo de Nampula, ambos em
Moçambique, ou D. António Ferreira
Gomes, bispo do Porto.
O Padre Abel
Varzim é um exemplo entre muitos outros sacerdotes que a ditadura não conseguiu
vergar. Também entre os leigos há “histórias do catolicismo militante” que
violaram “o silêncio cúmplice com o regime do Estado Novo”. Foram presos devido
à sua ousadia, mas contribuíram para o despertar da consciência crítica antes
da revolução – e fizeram com que a “libertação de Abril” também tivesse “o
‘dedo’ católico”.
São estas
histórias que o jornalista António Marujo tem publicado no blog “Religionline”,
há um mês. Num dos textos aborda o papel da teologia como “fator de dissensão e
despertador de consciências” em que fala de diversas iniciativas, muitas delas
com a sua génese no dinamismo suscitado pelo Concílio Vaticano II. Na verdade,
o 25 de Abril aconteceu no interior da Igreja, uma década antes da revolução.
Resgatou o laicado da passividade e apelou a uma maior participação na vida
eclesial, que João Paulo II designará como a corresponsabilidade laical.
Uma dessas
iniciativas eram os cursos de Verão dos dominicanos em que as discussões
teológicas adormeciam o agente da PIDE, sempre presente, mas despertavam os
cristãos que “descobriram, através de livros, cursos, encontros ou publicações
clandestinas uma forma de agir militante na oposição ao regime”. No período que
antecedeu o 25 de Abril, e já desde os anos 50, para António Marujo “muitos
cristãos começaram a ler e aprender teologia, passando da simples leitura ao
debate sobre a relação entre fé e política e à ação militante contra a guerra
de África”.
Quarenta
anos depois, o país e a Igreja continuam a precisar que os leigos aprofundem os
seus conhecimentos teológicos. Que debatam os problemas que afetam a humanidade
à luz dos valores do Evangelho. E que se empenhem na “ação militante” contra a
“ditadura dos mercados” e a “economia que mata”.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 25/04/2014)
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