D. António Ferreira Gomes Foto da Fundação Spes |
Um bispo que
no seu discurso inclua a defesa dos mais pobres e oprimidos, rapidamente é
catalogado como de esquerda, comunista ou “vermelho”. Aconteceu assim entre
nós, antes e depois do 25 de Abril. E já há quem considere assim o atual Bispo
de Roma.
No próximo
domingo completam-se 25 anos sobre a morte de D. António Ferreira Gomes, um
exemplo emblemático da defesa da verdade e da oposição à ditadura no interior
da Igreja Portuguesa. Foi também ele um dos primeiros a denunciar os erros e
exageros pós-revolucionários.
Um outro
bispo que viria a receber os mesmos epítetos foi D. Manuel Martins, uma voz
incómoda ao denunciar situações de exploração e miséria humana como as que
encontrou em 1975, o ano em que tomou posse da recém-criada diocese de Setúbal,
de que foi o seu primeiro bispo.
Há dias,
numa curiosa entrevista a cinco jovens belgas, o Papa referiu que devido ao seu
discurso em defesa dos pobres e à preferência que lhes dedica, alguém o
classificou como comunista. “Não. Essa é uma bandeira do Evangelho, não do
comunismo: do Evangelho! Mas a pobreza sem ideologia, a pobreza... E por isso
creio que os pobres estão no centro do anúncio de Jesus. Basta ler o Evangelho”,
reagiu.
Por isso,
não é de estranhar. Nem ninguém se deve escandalizar quando os bispos, de uma
forma mais ou menos contundente, anunciam os valores do Evangelho e denunciam
as injustiças. Espera-se que eles sejam a voz dos que não têm voz e os
catalisadores do empenhamento de todos na luta contra a pobreza. D. António
Francisco dos Santos aproveitou a tomada de posse da diocese do Porto para lançar
o desafio: “Sejamos ousados, criativos e decididos sempre, mas sobretudo quando
e onde estiverem em causa os frágeis, os pobres e os que sofrem. Esses devem
ser os primeiros, porque os pobres não podem esperar!”.
De estranhar é quando eles são esquecidos nas palavras
e nas atitudes dos líderes religiosos. Motivos de escândalo são todos os
cristãos que suspendem os valores em que acreditam e que compactuam com
situações de exploração e de opressão. Preocupante é quando nos tornamos
insensíveis ao sofrimento humano e embarcamos na “globalização da indiferença”
que o Papa denunciou na ilha de Lampedusa.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 11/04/2014)
(Texto publicado no Correio da Manhã de 11/04/2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário