Igreja de N. Sra. dos Navegantes Foto retirada do sítio da Paróquia do Parque das Nações |
Os cristãos não têm templos, locais aos quais Deus esteja
confinado: Ele está em toda a parte. Nos inícios do cristianismo os fiéis
reuniam-se ao Domingo, o dia em que Jesus ressuscitou. Habitualmente à noite,
porque era um dia de trabalho normal, e à volta da mesa, porque de uma refeição
se tratava e na qual se recordava a Última Ceia de Jesus com os Apóstolos.
Estes espaços privados começaram a ser designados como “Domus
Ecclesiae” expressão latina que significa casa da assembleia. Da palavra
“Ecclesia” derivará a nossa palavra igreja, que passou a designar a casa onde
se reúnem os cristãos. O continente acabou por receber o nome do conteúdo.
Ao longo dos séculos, numa lenta evolução, a mesa da
refeição acabou encostada à parede, com todos os fiéis – mesmo o sacerdote que
celebrava de costas para o povo – voltados para o altar-mor, onde pontificava o
sacrário, o local onde se guarda o Corpo de Cristo, o Santíssimo Sacramento. Havia,
assim, um ponto de referência, em função do qual se organizava todo o espaço, e
orientava a conceção arquitetónica que se foi consolidando ao longo dos tempos.
O Concílio Vaticano II veio complicar tudo, ao pretender
recuperar o ambiente de refeição para a celebração. A liturgia passou a
organizar-se, não em função do Santíssimo, mas em função da mesa da refeição, o
altar, que voltou a ser desencostado da parede.
Nestes 50 anos de pós-concílio, não tem sido fácil
adaptar igrejas construídos em conformidade com outro ideário celebrativo, às
novas exigências litúrgicas. E mesmo as construídas de raiz têm, muitas vezes,
dificuldade em traduzir as ideias pós-conciliares.
Contudo, há bons exemplos espalhados pelo mundo e no
nosso país foi inaugurada, esta semana, mais uma igreja que traduz bem a
renovação litúrgica introduzida pelo Concílio Vaticano II. Trata-se da Igreja
de Nossa Senhora dos Navegantes, inaugurada no Parque das Nações, em Lisboa. É
um edifício “de uma beleza não espalhafatosa mas essencial”, como a classificou
D. Manuel Clemente, segundo o semanário “A Voz da Verdade”, em que facilmente
se pode ler o Concílio e – em sintonia com o ambiente marítimo que o envolve –
o complexo urbanístico resultante da Expo 98.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 04/04/2014)
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