Papa lava os pés num centro de deficientes (Foto retirada daqui) |
O Papa está a fazer uma revolução coperniciana ao fazer
das periferias o centro do seu discurso. Aproveita todas as oportunidades, até
as mais improváveis, para chamar a atenção para os pobres e os excluídos da
sociedade. Nem mesmo as romanas cerimónias da Semana Santa, alérgicas à
mudança, resistiram ao efeito renovador de Francisco, que introduziu práticas
carregadas desde o “fim do mundo”.
Era normal para o cardeal Bergoglio, em Buenos Aires,
fazer a celebração da missa da tarde de Quinta-feira Santa – em que se recorda
a Última Ceia de Jesus, na qual este lavou os pés aos Apóstolos e instituiu a
Eucaristia – numa prisão, num hospital ou num hospício. Assim, chamava a
atenção para os que muitas vezes a sociedade quer esquecer logo no início dos
três dias mais importantes para Igreja, aqueles em que se celebra a Paixão,
Morte e Ressurreição de Jesus.
À semelhança do que fazia na sua diocese, no ano passado
foi celebrar essa missa a uma prisão, chegando mesmo a lavar os pés a raparigas
e, até, a uma muçulmana. Este ano, embora numa igreja, realizou essa cerimónia
rodeado por pessoas portadoras de deficiência. Foram escolhidas doze de entre
elas, que professam diferentes credos, de diversas etnias e de idades variadas,
a quem o Papa lavou os pés.
São gestos simbólicos, que ajudam a despertar
consciências, mas que nenhum efeito terão se não levarem os cristãos a
empenharem-se na denúncia e no combate àquelas que são as causas da pobreza e
marginalização. Essas “não são fruto do acaso nem uma inevitabilidade”,
denunciou um manifesto divulgado recentemente, mas “decorrem do modo como a
sociedade e a economia estão organizadas”. Esse texto é o resultado de uma
reflexão promovida pela Rede Europeia Anti Pobreza, com a participação de
várias personalidades e instituições nacionais ligadas a esta problemática.
Para os seus signatários, a pobreza configura uma violação dos Direitos Humanos
e é urgente a adoção de medidas políticas e económicas de acordo com uma “Estratégia
de Erradicação da Pobreza e a Exclusão Social”.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 18/04/2014)
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