Foto "L’Osservatore Romano" retirada daqui |
As palavras e os gestos do Papa Francisco têm
contribuído para a humanização do papado. Na visita a uma paróquia periférica
de Roma, a do Sagrado Coração, apresentou-se há dias como um “homem comum” e abriu
o seu coração a um grupo de refugiados confessando que na sua vida, como na
deles, houve “muitas coisas boas e muitas más”.
Desde Pedro, o primeiro Papa, até aos nossos dias,
fez-se um longo caminho na forma de compreender e exercer o ministério petrino.
Uma história que chegou a fazer do sucessor de um humilde e arrependido pescador
um Papa–Rei, esvaziando-o da sua humanidade e transformando-o num ser quase
inacessível e infalível.
Felizmente, nos últimos dois séculos o caminho tem
sido o inverso.
Em 1870 o Concílio Vaticano I definiu a infalibilidade
papal. Fê-lo, curiosamente, nas vésperas de o papado perder os Estados
Pontifícios para a Itália unificada. O Papa infalível viu-se portanto confinado
ao minúsculo território da Cidade do Vaticano, no qual, para vincar o seu
protesto, se enclausurou.
Pio XII rasgou os muros do Vaticano com a “Via
della Conciliazione”, símbolo da reconciliação entre a Santa Sé e a Itália, mas
não os transpôs. Será João XXIII, o primeiro Papa a ultrapassá-los – para
visitar um hospital pediátrico e uma cadeia – e a sair de Roma – para visitar
Assis e o Santuário do Loreto. Mas, mais importante do que a transposição dos
muros do Vaticano, foi ter despoletado o dinamismo de uma Igreja que se voltou
para o mundo com a convocação de um concílio, o Vaticano II.
Paulo VI deu continuidade à atividade conciliar do
“Papa Bom”, concluindo-a. E saiu de Itália para visitar a Terra Santa, a que se
seguiram outros pontos do globo, como Fátima.
João Paulo II, para além de intensificar as visitas
apostólicas, no final do pontificado expôs ao mundo a sua decrepitude e doença.
E Bento XVI deu uma machadada na concepção tradicional do papado, despojando-o do
seu carácter vitalício.
Já Francisco, mais do que o Sumo Pontífice,
preferiu desde a primeira hora ser o Bispo de Roma, um homem comum, que sofre
como todos. Um pecador, como qualquer dos bispos, tal como ainda há dias fez
questão de recordar: “Todos os bispos somos pecadores. Todos!”
(Texto publicado no Correio da Manhã de 31/01/2014)
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