Foto: Filippo Monteforte/AFP |
Na noite de 11 de Fevereiro
de 2013 uma câmara fotográfica registou a queda de um raio na cúpula de S.
Pedro. É um fenómeno que acontecerá dezenas de vezes ao longo do ano, mas essa
imagem apareceu em inúmeras publicações por coincidir com a renúncia de Bento
XVI. Algo que não acontecia na Igreja há quase seiscentos anos. E, pela
primeira vez, foi “uma decisão tomada de forma livre e espontânea, sem estar
envolta em polémica nem resultar de pressões, como aconteceu nas anteriores”,
escrevi na altura. Não faltaram, contudo, leituras com as mais elaboradas
teorias, atribuindo a decisão de Ratzinger a forças vaticanas obscuras.
À distância de um ano, o P. Antonio Spadaro, diretor
da revista “La civiltà cattolica”, pensa que é errado atribuir a renúncia do
Papa somente “à debilidade física, provocada pela idade, pelo cansaço ou a motivações
símiles”. Devem-se procurar as causas de tão inusitado gesto no discurso que
dirigiu aos cardeais reunidos, naquele dia, para aprovar novos santos.
“No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e
agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a
barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do
corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de
tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar
bem o ministério que me foi confiado”. Spadaro considera estas palavras “o
coração da comunicação” de Bento XVI e conclui, a partir delas, que “o Papa
renuncia ao ministério petrino não somente porque se sente débil mas porque
percebe que estão em jogo desafios cruciais que pedem uma energia nova”.
Os cardeais souberam ler as palavras de Bento XVI e
escolheram Jorge Mario Bergoglio. Este introduziu na Igreja o dinamismo a que o
seu antecessor aludia. Está a conseguir dialogar com a pós-modernidade e a
afrontar com vigor as questões que ela coloca à fé. “O motor primário na cadeia
de eventos que levou ao Papa Francisco foi Bento XVI, o revolucionário
improvável, que colocou as rodas em movimento um ano atrás”, conclui John Allen,
num artigo no jornal “The Boston Globe”, sobre a resignação de Joseph Ratzinger.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 14/02/2014)
(Texto publicado no Correio da Manhã de 14/02/2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário