Foto retirada de ACI Digital |
Há acontecimentos que merecem o destaque das
primeiras páginas e a abertura dos noticiários e, depois, aos poucos, vão-se
esvaziando até desaparecerem da agenda mediática.
A figuras públicas tem-lhes acontecido o mesmo. Em
tempos de crise e de falta de lideranças políticas que se imponham, depressa se
adere a quem aparece de novo, depositando nele todas as esperanças. O Papa Francisco foi uma dessas figuras no ano que
passou. Ganhou a simpatia de crentes e não crentes. Conquistou os meios de
comunicação social. Alguns, aliás, acharam que ele é um estratega e que sabe
utilizar com mestria o púlpito dos média para passar uma mensagem atualizada e
refrescada da doutrina cristã.Muito do sucesso do Papa resulta da novidade que introduziu no discurso eclesiástico, acompanhando-a de gestos surpreendentes. Na verdade, os valores e os princípios que propõe e as iniciativas que toma estão em linha com o pensamento que já defendia enquanto cardeal de Buenos Aires. Um discurso que, na sua essência, tem mais de dois mil anos, mas que carece de ser atualizado a cada época e em cada contexto.
Na verdade, para um cristão, é difícil dizer algo
de novo que o Evangelho não contenha: o desafio é atualizar a sua mensagem.
Jesus preocupava-se com os marginalizados, os publicanos e os pecadores. Hoje o
Papa fala dos refugiados e dos imigrantes ilegais, preocupando-se com os
esquecidos a que chama “periferias existenciais e geográficas”.
Para alguns comentadores ser-lhe-á impossível
manter esta novidade de discurso, pelo que acabará por não corresponder às
esperanças que nele são depositadas, como aconteceu com Obama e outros líderes.
Outros falam até de algum desgaste – e prevêem que durante o próximo ano não
venha a merecer o mesmo destaque mediático.
O Papa, no entanto, não parece muito preocupado com a
lógica mediática; parece, sim, querer mostrar-se mais coerente entre o que diz
e o que faz. Pela minha parte, enquanto padre, acho muito importante que o pensamento
do Papa seja traduzido na reforma e no governo da Igreja. Se não o for, será
uma desilusão: não por perder a novidade, mas por não conseguir enxertar os
valores do Evangelho no mundo contemporâneo.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 07/02/2014)
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