segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Um Papa global

O Papa Francisco está a tornar-se numa fenómeno verdadeiramente planetário. Não só por liderar uma instituição com presença em todo o mundo, mas porque a sua palavra se dirige de forma direta aos grandes problemas de toda a humanidade. Ergueu a sua voz, por diversas vezes – também na Evangelii Gaudium – para denunciar a “globalização da indiferença”. Apela ao empenhamento de todos, em particular dos católicos, para “eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos”. Os pobres e excluídos ganharam o lugar central no seu discurso e nos seus gestos.

Esta semana, foi apresentado como personalidade do ano, pela revista Time. Não é a primeira vez que um Papa recolhe esta classificação, conferida a quem durante o ano marcou a atualidade. Já aconteceu o mesmo com João XXIII, em 1962, e com João Paulo II, em 1994. Em ambos os casos, vários anos depois de terem assumido o papado. Ao atual Bispo de Roma bastaram apenas nove meses para se impor no espaço mediático. A diretora da Time justifica, precisamente, a escolha do Papa para capa da próxima semana, por “ser raro que um novo ator do cenário mundial suscite tão rapidamente a atenção tanto entre os jovens como entre os mais velhos e de igual modo entre os crentes e os céticos”.

Alguns acham que o sucesso mediático do Papa Bergoglio se deve às características do seu discurso, que todos compreendem, sem a linguagem hermética e complexa típica dos eclesiásticos.
Outros leem nas palavras e gestos do Papa uma estratégia refletida e exemplarmente implementada, para recuperar a base social de apoio, abordando temas e dando destaque a acontecimentos que marcam a atualidade.

Apesar de já ter dito que não se sente confortável nos palcos mediáticos, tem demonstrado uma facilidade de comunicação e um à vontade extraordinário. Contudo, essa eficácia não se deve tanto a uma estratégia delineada, nem é fruto de qualquer “media training” para a presença pública, a que se submetem tantos líderes mundiais: a sua eficácia comunicativa advém da sua autenticidade e coerência. Diz o que pensa e age em conformidade. Um grande exemplo, a ser seguido por outras lideranças eclesiásticas e até políticas.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 13/12/2013)

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