O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium, afirma categoricamente
que “o sacerdócio reservado aos homens (…) é uma questão que não se põe em
discussão”. Mas acrescenta que “é preciso ampliar os espaços para uma presença
feminina mais incisiva na Igreja” e deixa esse desafio aos pastores e aos
teólogos. Em poucas linhas, encerra a discussão em volta da ordenação de
mulheres e abre o debate sobre o seu papel na vida da Igreja.
No enquadramento da
questão do acesso feminino à ordenação, o Papa esclarece que o sacerdócio tem
de ser entendido como uma função, um serviço, que não dá uma maior dignidade ou
superioridade a quem a desempenha. Na Igreja a maior dignidade é conferida pelo
Batismo, “que é acessível a todos”, sublinha o Papa.
A reflexão em torno
desta questão inicia-se com o reconhecimento da “indispensável contribuição da
mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades
peculiares, que habitualmente são mais próprias das mulheres que dos homens”.
A Igreja não pode
dar-se ao luxo de prescindir dessas características e deve garantir a presença
feminina “nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na
Igreja como nas estruturas sociais”. É evidente que Papa está mais preocupado
em garantir a participação da mulher nos espaços de decisão do que em discutir
o acesso ao sacerdócio. É um “grande desafio” que ele confia aos pastores e
teólogos, que podem “ajudar a reconhecer melhor o que isto implica no que se
refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam decisões importantes, nos
diferentes âmbitos da Igreja”.
Hoje, alguns desses
espaços são exclusivos dos clérigos. Os leigos não lhe têm acesso. Pensemos por
exemplo no Colégio de Consultores, que todas as dioceses são obrigadas a ter e
que o bispo é obrigado a consultar em determinadas decisões e, nas mais
importantes, a obter o seu consentimento. Teremos no futuro nessa e noutras
estruturas, agora clericais, a inclusão de leigos e o contributo da perspetiva
feminina?
Corresponder ao desafio
do Papa implicará necessariamente uma conversão profunda das mentalidades. E,
sobretudo, uma mudança na forma atual de governar a Igreja.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 06/12/2013)
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