segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

As mulheres na Igreja


Foto do sítio reparatoris.com
O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, afirma categoricamente que “o sacerdócio reservado aos homens (…) é uma questão que não se põe em discussão”. Mas acrescenta que “é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja” e deixa esse desafio aos pastores e aos teólogos. Em poucas linhas, encerra a discussão em volta da ordenação de mulheres e abre o debate sobre o seu papel na vida da Igreja.

No enquadramento da questão do acesso feminino à ordenação, o Papa esclarece que o sacerdócio tem de ser entendido como uma função, um serviço, que não dá uma maior dignidade ou superioridade a quem a desempenha. Na Igreja a maior dignidade é conferida pelo Batismo, “que é acessível a todos”, sublinha o Papa.

A reflexão em torno desta questão inicia-se com o reconhecimento da “indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, que habitualmente são mais próprias das mulheres que dos homens”.

A Igreja não pode dar-se ao luxo de prescindir dessas características e deve garantir a presença feminina “nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais”. É evidente que Papa está mais preocupado em garantir a participação da mulher nos espaços de decisão do que em discutir o acesso ao sacerdócio. É um “grande desafio” que ele confia aos pastores e teólogos, que podem “ajudar a reconhecer melhor o que isto implica no que se refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam decisões importantes, nos diferentes âmbitos da Igreja”.

Hoje, alguns desses espaços são exclusivos dos clérigos. Os leigos não lhe têm acesso. Pensemos por exemplo no Colégio de Consultores, que todas as dioceses são obrigadas a ter e que o bispo é obrigado a consultar em determinadas decisões e, nas mais importantes, a obter o seu consentimento. Teremos no futuro nessa e noutras estruturas, agora clericais, a inclusão de leigos e o contributo da perspetiva feminina?

Corresponder ao desafio do Papa implicará necessariamente uma conversão profunda das mentalidades. E, sobretudo, uma mudança na forma atual de governar a Igreja.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 06/12/2013)

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