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Não é original da Exortação, mas algo que o
Cardeal Bergoglio já repetia em Buenos Aires. Nota-se que é uma frase decantada
ao longo de anos vividos em íntima proximidade com o seu rebanho. Não é a
formulação de um funcionário do sagrado, confinado à sacristia da sua igreja,
mas de um pastor que vive no meio do rebanho e que contraiu o “cheiro das
ovelhas”.
Ao longo de toda a Exortação é de tal forma evidente
esse odor que este acaba por incomodar alguns narizes, mais habituados ao bafio
dos corredores vaticanos. Numa entrevista o cardeal Burke chega a afirmar que,
na sua opinião, a Evangelii Gaudium não “está destinada a fazer parte do
magistério papal”.
Outros não vão tão longe, mas argumentam que o
Papa não diz nada de novo. Que só a forma como o diz é que é original. Procuram,
assim, amenizar um discurso que desinstala e põe todos em questão, até o
próprio papado.
Há, também, quem sublinhe o estilo pastoral do
Papa Francisco, não lhe reconhecendo, ainda, qualquer avanço doutrinal em
relação aos seus antecessores. Poderá ser verdade: mas também é certo que se
abriram perspetivas para relançar a reflexão no interior da Igreja.
Na Exortação o Papa convoca exegetas e teólogos
para ajudar a Igreja a “crescer na sua interpretação da Palavra revelada e na
sua compreensão da verdade”. Abre essa reflexão ao contributo da filosofia e
das ciências sociais. Consciente que “a quantos sonham com uma doutrina
monolítica defendida sem nuances por todos, isto poderá parecer uma dispersão
imperfeita; mas a realidade é que tal variedade ajuda a manifestar e
desenvolver melhor os diversos aspetos da riqueza inesgotável do Evangelho”.
Se todos souberem corresponder aos apelos do Papa,
notar-se-ão em breve os avanços na forma de compreender e viver hoje a doutrina
– imutável nos princípios, mas actualizável nas prioridades – da Igreja.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 20/12/2013)
(Texto publicado no Correio da Manhã de 20/12/2013)
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