quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Pe. Samelo, profeta que a morte não cala

Pe. António Samelo
Há pessoas que passam pelas nossas vidas e deixam em nós uma marca indelével. São pessoas que vivem certos valores de uma tal forma que nos desafiam, não a imitá-los, mas a viver esses mesmos valores no nosso contexto vital.

É o caso do Pe. António Samelo, presbítero da diocese de Coimbra, como gostava de se apresentar. Hoje celebra 70 anos de vida junto de “Deus Pai/Mãe”, como gostava de a Ele se referir. Partiu na semana passada para junto d’Ele, após doença prolongada.

O Pe. Samelo estava consciente que se aproximava o fim da sua vida sobre a terra. No início de novembro enviou um correio eletrónico a convidar para a Eucaristia da sua Páscoa. Ou seja, do seu funeral, da sua passagem desta vida para a vida em Deus.

No final dessa sua missiva, referia as conclusões do Sínodo, em que se revia. Aí via confirmada a luta da sua vida por uma Igreja mais fiel ao Evangelho de Jesus Cristo. Nesta, a dignidade dos fiéis advém do sacramento do batismo e não do sacramento da Ordem. Sublinhava, então, em sintonia com o Sínodo, a necessidade de a Igreja se repensar nessa ótica. “É um belo desafio que já não poderei concretizar... mas... o Espírito vai trabalhando... a ver se se quebra ‘o espinhaço’ do diabólico clericalismo”, concluía.

O testemunho que ele nos deixa é de alguém que exerceu o seu ministério com total desprendimento. Nunca procurou qualquer cargo movido pela sede de poder, ou de destaque social. Sempre abominou e denunciou o carreirismo. Esteve sempre disponível para servir o Povo de Deus onde lhe era solicitado.

A coerência, a radicalidade, o desprendimento, a disponibilidade e tantas outras qualidades do Pe. Samelo, permanecerão na memória daqueles que com ele contactaram. Ele continuará a desafiar-nos a sermos mais consequentes com a palavra e o exemplo de Jesus Cristo.