quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Francisco regressa à “sã laicidade” de Bento XVI

A matriz cristã da cultura europeia está a desvanecer-se. A questão de Deus perdeu relevância no mundo ocidental, apesar de a fé cristã ter inspirado “a vida dos povos e as suas próprias instituições políticas”, como referiu o Papa Francisco no congresso sobre a religiosidade popular na Sardenha, no domingo. O Papa, contudo, não embarca em análises simplistas, “apressadas” e “ideológicas” do atual contexto europeu, as quais contrapõem a “cultura cristã” à “cultura laica”.

Os crentes são chamados a “viver a sua fé sem a impor”. Será por um testemunho coerente dos valores em que acreditam que poderão transformar os ambientes em que se movimentam. O Papa destaca que, entre os não crentes, há quem se interrogue sobre o sentido da vida e esteja disponível para se envolver na promoção “da verdade, da justiça e da solidariedade”.

Não faz sentido, por isso, um laicismo que procure restringir a vivência da fé ao foro íntimo: os crentes e os não crentes devem empenhar-se na edificação de uma sociedade mais justa e mais solidária. Promover uma “sadia laicidade” em que todos se envolvam na promoção do bem comum.

Nesta sua curta passagem pelo território francês (apenas nove horas) o Papa repropôs a “sã laicidade” que para Bento XVI significava “libertar a religião do peso da política e enriquecer a política com o contributo da religião, mantendo entre ambas a distância necessária, a distinção clara e a colaboração indispensável”.

Tal como Bento XVI, Francisco está a ser um verdadeiro Pontífice na defesa de uma laicidade saudável, ou seja, um construtor de pontes entre crentes e não crentes, entre a Igreja e o Estado. A articulação sadia que ambos defendem entre as duas entidades é uma alternativa fecunda a que vivam de costas voltadas. Ou, pior ainda, a que tentem subjugar-se uma à outra.

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