quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A ausência de Francisco em Paris

Foi notada a ausência do Papa Francisco na reabertura da catedral de Notre-Dame, em Paris, no passado sábado. Foi um evento com grande projeção mediática, em que participaram mais de três dezenas de chefes de Estado e de Governo - e mais de 1500 convidados.

Em vez de ir a Paris, o Papa preferiu deslocar-se ao território francês no próximo domingo para participar no encerramento de um congresso sobre a religiosidade popular, em Ajácio, na ilha da Córsega. Esta decisão do Papa é incompreensível e criticável à luz dos critérios do Mundo, mas faz todo o sentido à luz do exemplo de Jesus Cristo e, consequentemente, dos critérios dos Evangelhos.

Jesus Cristo procurou demonstrar o amor de Deus e a sua predileção por todos aqueles que eram discriminados e marginalizados - os pobres, os pecadores, os doentes... O Papa inclui todos esses na categoria das periferias que podem ser geográficas, económicas, políticas, culturais e existenciais. Preocupam-no, particularmente, os refugiados e tantos que perdem a vida a atravessar o Mediterrâneo em busca de melhores condições de vida. Por isso, em vez de estar onde os olhos do Mundo estão colocados, quer chamar a atenção para aquilo que o Mundo não quer ver.

Outra preocupação do Papa - a qual justifica a sua ida ao encerramento do congresso - advém da sua consciência de que é a religiosidade popular, tão maltratada e menosprezada em tantos contextos, que mantém viva a fé de tantos homens e mulheres. É necessário, por isso, dar-lhe maior relevância.

Jesus Cristo fazia aquilo que não se esperava que um mestre fizesse em Israel. Debater teologia com uma mulher, por exemplo, como no diálogo com a samaritana (Cf. Jo 4, 1-42). Quando o Papa realiza gestos inspirados em Jesus, é natural que, como Ele, escandalize e confunda os que se regem por outras lógicas.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 11/12/2024)

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