A humanidade esqueceu-se depressa
dos horrores da Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, criaram-se uma série de
estruturas com o objetivo de prevenir a guerra e resolver os conflitos entre os
povos pela via da negociação. Acreditava-se, então, que a democracia acabaria
por triunfar em todas as nações e que elas seriam o caminho para a paz.
Quase oitenta anos depois de
terminar a Segunda Guerra Mundial, verifica-se, como já tem referido diversas
vezes o Papa Francisco, uma “Terceira Guerra Mundial travada aos pedaços”. No
sábado passado, num encontro com legisladores católicos no Vaticano, expressou
a sua preocupação pelo curso desta Terceira Guerra que “parece permanente e
imparável”.
O mais inquietante para o Papa nesta
circunstância é “a enorme capacidade destrutiva dos armamentos contemporâneos”
que “tornou obsoletos os critérios tradicionais para os limites da guerra”.
Para além disso, hoje é cada vez mais inconsistente “a distinção entre
objetivos militares e civis”. Por isso, não só a destruição é muito maior, mas
também as vítimas são muito mais numerosas. Dada a globalização, a guerra
deixou de afetar só os países envolvidos, passando a atingir todo o planeta.
O Papa não o diz explicitamente, mas
sabe – como se acreditava no pós-guerra... – que a atual situação mundial se
deve ao enfraquecimento das democracias e ao crescimento de estados dominados
por sistemas autocráticos e totalitários. Estes manipulam mais facilmente a
opinião pública e empurram as outras nações para a guerra.
Hoje, como há 80 anos, lutar pela
paz significa um compromisso com a defesa e o fortalecimento da democracia. Não
podemos esquecer onde nos conduziram as ditaduras. Aliás, são bem visíveis hoje
os efeitos no mundo da ação de estados dominados por ditadores. Por mais que estes
simulem eleições...
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 28/08/2024)
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