Casa de Santa Rafaela Maria, em Palmela Foto: Irene Guia retirada daqui |
Olhar para a criação como um templo pode levar um crente a retirar diferentes consequências para a sua vida. Um israelita deportado para a Assíria (séc. VIII a.c.), ou no exílio da Babilónia (séc. VI a.c.), sem acesso ao templo, vai desenvolver a narrativa do mundo como o templo de Deus, plasmada na primeira descrição da criação no livro do Génesis da Bíblia. É nesse templo que pode continuar a desenvolver a sua prática religiosa.
Dois mil e quinhentos anos depois, em 1905, Santa Rafaela Maria, a fundadora das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, escreveu: “Estou neste mundo como num grande templo”.
Ela “escreveu esta frase nuns exercícios espirituais que fez numa fase difícil da sua vida”, explicou ao jornal digital “7 Margens” a irmã Irene Guia, da congregação de S. Rafaela. “Entrou para o retiro um bocadinho em baixo, mas, depois, sentiu-se revigorada – e usou esta expressão de estar no mundo como num grande templo”. E acrescentou na época S. Rafaela: “Como tal, devo ser sacerdote nele e oferecer sacrifícios de louvor”.
Inspirando-se nesta frase da fundadora, as Escravas promoveram, no passado sábado, uma tarde de reflexão na sua casa de Palmela. Os participantes puderam escutar diversas vozes, e ouviram até “os sem voz, os descartáveis de que fala o Papa, os invisíveis” falar sobre esse templo de Deus. Refletiu-se sobre a relação entre ecologia e a espiritualidade, sobre a “Economia de Francisco”, sobre o papel das artes na promoção dos direitos humanos. Falou-se também na proteção da casa comum e sobre aqueles que são marginalizados neste templo.
Não é fácil traduzir para os dias de hoje frases com décadas, com séculos ou milénios. Mas muitas delas podem iluminar os problemas do presente. Quem se empenhar em fazê-lo fica em melhores condições para dialogar com a cultura atual.
Sem comentários:
Enviar um comentário