Na última semana, trabalhos jornalísticos sobre a fé católica de Marcelo Rebelo de Sousa e de Sebastião Bugalho vieram colocar a relação entre religião e política na primeira linha da análise política.
A grande questão é que, quando um político torna pública a sua fé, arrisca-se às mais diversas leituras. Se é católico, coloca-se numa posição mais delicada, porque, para além de seguidor de Jesus Cristo, assume também a sua filiação à Igreja Católica.
Seguir Jesus Cristo não causa grandes problemas, porque cada um faz a interpretação que mais lhe agrada dos Evangelhos. Cabe lá tudo, desde a extrema-direita à extrema-esquerda. Já a pertença à Igreja é mais problemática, uma vez que esta é constituída por homens e mulheres de diferentes contextos pessoais e culturais. Essa é a sua riqueza e a sua debilidade. Não é fácil manter a unidade e o consenso entre tantos fiéis, de tantas culturas, e propor condutas comuns a adotar...
Não há nenhum partido político que acomode toda a riqueza do Evangelho e da diversidade da Igreja. Todos têm seguramente algo que está em consonância com os ensinamentos de Jesus Cristo, assim como todos têm posições que não são acomodáveis neles. Daqui decorre que católicos com diferentes mundividências optem por diferentes partidos (excluindo os que são antirreligiosos anticlericais) e todos continuem a ter lugar na mesma Igreja.
O desafio para um político católico é, portanto, traduzir aquilo em que acredita na sua atividade política. Ou seja: contribuir para que a sociedade se desenvolva de acordo com os valores fundamentais do Evangelho, tais como, a radical igualdade de cada mulher ou homem perante o Criador, o amor ao próximo, a tolerância, o perdão e a compaixão. Quem se afasta de valores como estes presta um mau serviço, quer à Igreja, quer aos partidos.
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