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O filme “Spotlight” veio chamar de novo a atenção para o
escândalo da pedofilia no seio da Igreja Católica. Desde 2002 – quando o jornal
“The Boston Globe” denunciou diversos padres abusadores, que o filme relata –
até hoje, mudou muito a práxis da Igreja em relação a esses deploráveis
comportamentos. Na altura tentava-se abafar o escândalo e os bispos
limitavam-se a mudar de paróquia os padres prevaricadores. Hoje, são obrigados
a denunciar os casos às autoridades civis e eclesiásticas. Vindo-se a provar a
veracidade das denúncias, sujeitam-se às penas civis e canónicas. E estas
últimas podem implicar a perda do estatuto clerical.
A bordo do avião, no regresso do México, o Papa falou da
questão aos jornalistas. Recordou a pessoa a quem muito se deve a mudança de
atitude por parte da hierarquia. “Aqui gostaria de prestar homenagem a um homem
que lutou, num momento em que não tinha força para se impor, até conseguir
impor-se: o Cardeal Ratzinger – uma salva de palmas para ele” disse o Papa. Depois,
já como Bento XVI, continuou a sua luta contra esta chaga na Igreja. E obrigou
todas as conferências episcopais a definirem diretrizes claras para intervir nestes
casos.
O Papa Francisco continuou a obra do seu antecessor. No
diálogo com os jornalistas, elencou as várias medidas que tem tomado e deixou
uma séria advertência aos seus irmãos no episcopado: “Um bispo que muda de
paróquia um sacerdote quando se verifica um caso de pedofilia, é um
inconsciente. E a melhor coisa que pode fazer é apresentar a renúncia”.
Apesar de globalmente a atitude dos bispos se ter
modificado muito na abordagem da pedofilia, ainda se nota alguma
condescendência com outros comportamentos que também corrompem os clérigos.
Estes, ainda que pareçam menos graves – como o carreirismo, o apego ao dinheiro,
o plágio, a sobranceria ou a vaidade –têm merecido a condenação veemente do
Papa.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 26/02/2016)