Foto Reuters retirada daqui |
A
erradicação da pobreza deveria ser o primeiro objetivo da atividade política e,
por conseguinte, da governação.
Apesar de o
número de pobres ter aumentado em Portugal nos últimos anos, os partidos
políticos revelam “alguma insensibilidade e até desconhecimento desta realidade
que já afeta cerca de três milhões de portugueses”. Foi o que constatou o
presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN), padre Jardim Moreira, no final
de um encontro na Assembleia da República com deputados de todos os partidos.
Alguns deles terão mesmo dito que estas matérias serão aprofundadas “só depois
das eleições”!
Infelizmente
uma grande quantidade dos pobres, como acontece com a maioria dos portugueses,
não votam – e os partidos sabem disso. Se todos votassem seria bem diferente a abordagem
dos políticos à pobreza. Todos os programas eleitorais se encarregariam de
piscar o olho a esses milhões de portugueses com as mais variadíssimas
promessas.
Para atacar
este flagelo social não bastam, porém, promessas eleitorais: exige-se um
“compromisso para a definição de uma estratégia nacional de erradicação da
pobreza”. É essa a convicção da EAPN, que há mais de vinte e cinco anos defende
a necessidade de atuar ao nível das causas estruturais da pobreza e de envolver
os pobres e os excluídos na procura de respostas para a sua situação.
A Rede não
embarca numa prática assistencialista da solidariedade, que se limita a
distribuir esmolas e gera subsidiodependência. Nem acredita, como professam as
correntes em voga do neo-liberalismo, que o crescimento económico, a competitividade
e a inovação, promovam a criação de riqueza e a pobreza desapareça. A história
demonstra que os lucros têm tendência a concentrarem-se na mão de poucos,
acabando a maioria por não beneficiar grandemente da prosperidade económica.
Nos tempos
de crise, não são os ricos os mais afetados, são os pobres os que mais sofrem.
E muitos dos que antes não o eram acabam por ser lançados para níveis próximos
do limiar da pobreza. Nesta última crise, que o país atravessa, resvalaram para
essa situação mais duzentos mil portugueses.
É por isso urgente um envolvimento de todos – a começar
pelos partidos políticos – na implementação de uma estratégia nacional para a
erradicação da pobreza.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 22/05/2015)
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