Primeiro número do Mensageiro de Bragança Foto retirada de diocesebm.pt |
D. Abílio Vaz das Neves era bispo de Cochim, na Índia, quando foi escolhido
para ser bispo de Bragança, a 8 de Dezembro de 1938. Amanhã cumprem-se trinta e
cinco anos sobre a sua morte. Em tempos conturbados, entre a II Guerra Mundial
e a Guerra Colonial, e numa diocese com parcos recursos, conseguiu deixar uma
obra assinalável. Concluiu o edifício onde funciona o seminário, construiu colégios
e um patronato para rapazes.
Fundou também uma congregação religiosa feminina. Criou o jornal “Mensageiro
de Bragança”. Reorganizou a catequese, que era, à época, considerada modelar no
país. Deu um grande impulso aos movimentos laicais. E investiu na formação dos
futuros padres, reformando o seminário diocesano.
Apesar deste dinamismo, há cinquenta anos, D. Abílio terá sido o primeiro
bispo a resignar antes de atingir os 75 anos, a idade prevista desde o Concílio
Vaticano II. Até então os bispos não eram obrigados a resignar e permaneciam à
frente da diocese até à morte. Justificou então o seu pedido por não se sentir
com forças para implementar a reforma conciliar, uma desculpa que surpreendeu. E,
logo na altura, se suspeitou da intervenção do poder político.
Segundo escreveu recentemente Henrique Ferreira, no “Mensageiro de
Bragança”, a razão foi essa: “D. Abílio foi vítima da sua solidariedade para
com o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, expulso do país entre 1959 e
1969 pelo regime político de Salazar. Na sua passagem por Bragança, foi
acolhido no Paço Episcopal. Como castigo, Salazar retirou os apoios à
construção da catedral (um projeto desse tempo) sob pressão dos líderes locais,
e acabou por influenciar a substituição do Bispo” de Bragança.
D. Abílio não conseguiu, assim, concluir um dos muitos projetos em que se
empenhou: construir a catedral. Uma aspiração adiada desde 1770 e que só viria
a concretizar-se em 2001.
Um dos segredos do sucesso de D. Abílio era saber colocar a pessoa certa no
lugar certo. E, apesar de ter um clero numeroso, quando, mesmo assim, este
faltava, ia-o buscar fora. Como foi o caso do cónego Formigão, sacerdote de
Lisboa, que veio para Bragança com a missão de refundar o seminário.
Por tudo isto, D. Abílio é hoje uma personalidade inspiradora para os momentos
difíceis que atravessamos.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 06/03/2015)
(Texto publicado no Correio da Manhã de 06/03/2015)
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